Recomendações de consulta
Assuntos culturais
Bibliotecas Virtuais
Blogues Parceiros
Documentários
Instituições Ensino Superior
Para mais consulta
Esquina do tempo por Brito-Semedo © 2010 - 2015 ♦ Design de Teresa Alves
Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 10 Mai 10
De repente, caiu-me em cima da cabeça o peso da História da Música de Cabo Verde dos últimos cinquenta anos, sistematizada no livro Kab Verd Band (2006), que é o resultado de um debruçar profundo sobre a nossa música! Confesso que fiquei esmagado com a quantidade e a riqueza de informações, escrita e iconográfica, que eu simplesmente desconhecia ou de que já não me recordava.
Se há uma falha e uma lacuna graves na minha formação, enquanto homem de cultura, é no domínio da música devido, sobretudo, à minha falta de audição e de orientação, na minha fase da adolescência e juventude, coisa que não faltou ao autor. Daí a minha admiração pelos músicos e intérpretes e, sobretudo, o meu fascínio pelos estudos da etnomusicologia, casos raros entre nós.
Recordemos os trabalhos publicados em livro por diferentes autores sobre o tema Música de Cabo Verde: (i) de José Bernardo Alfama, Canções Crioulas e Músicas Populares de Cabo Verde (1910); (ii) de Eugénio Tavares, Mornas, Cantigas Crioulas (1932); (iii) de B.Léza, Uma Partícula da Lira Cabo-verdiana (1933); (iv) de Desiré Bonnaffoux, Música Popular Antiga de Cabo Verde (1978); (v) de Oswaldo Osório, Cantigas de Trabalho – Tradições Orais de Cabo Verde (1980); (vi) de Jotamonte, Mornas e Contra-Tempos (Coladeiras de Cabo Verde) (1987), Música Caboverdeana – Mornas para Piano (1987) e Música de Cabo Verde – Mornas de Francisco Xavier da Cruz (1988); (vii) de Vasco Martins, A Música Tradicional Caboverdeana – I (A Morna), (1989); (viii) de Moacyr Rodrigues, Mornas e Coladeiras de Frank Cavaquim (1992); (ix) de Moacyr Rodrigues e Isabel Lobo, A Morna na Literatura Tradicional (1995); (x) de Margarida Brito, Os Instrumentos Musicais em Cabo Verde (1998); (xi) de Brito-Semedo, A Morna-Balada – O Legado de Renato Cardoso (1999); (xii) de Alveno Figueiredo e Silva, Aspectos Socio-Políticos da Música de Cabo Verde (2005); e (xiii) de Gláucia Nogueira, O Tempo de B.Léza (2005). Pese embora o facto de todos estes trabalhos agora enumerados serem de abordagem parcelar sobre temas específicos da nossa música.
O livro Kab Verd Band, do jornalista Carlos Gonçalves, é o primeiro do género, porque com uma abordagem ampla e uma visão abrangente sobre a Música de Cabo Verde. A obra começa por fazer uma breve síntese de contextualização histórica para, de seguida, passar a analisar os diferentes géneros musicais de Cabo Verde, quais sejam: o Batuque, a Tabanca, o Funaná, a Morna e a Coladeira, incluindo a Mazurca, a Contradança, as Valsas e as Polcas, discutindo as suas origens, levantando hipóteses, confrontando teorias.
Merecem também tratamento neste trabalho a Nova Música (a de exaltação nacionalista, por vezes, panfletária, surgida nos anos setenta, a seguir à independência, até os anos oitenta) e a Outra Música (o Clássico e o Jazz), não deixando de fora as manifestações culturais das Festas dos Santos como as Bandeiras, na ilha do Fogo, o Colá, nas ilhas de Barlavento, e o Colinha, na ilha Brava, onde a música se manifesta nas sessões do pilão, no repicar dos tambores e nos cantos das mulheres Coladeiras, ou mesmo nas cantigas de trabalho dos meios rurais ou ainda nos cânticos religiosos (as rezas, as ladainhas, as vésperas e as divinas).
Não ficando pelos géneros musicais – o que já seria bastante, seguem os Instrumentos (violão, cavaquinho e viola de 10 cordas, piano, órgãos e teclados electrónicos, baixo e contra-baixo, sopros, baterias e tambores) e os seus executantes, bem como os seus fabricantes; as Vozes da nossa música e os Conjuntos, dos inícios do século XX à actualidade; o fenómeno recente dos Festivais, a Discografia e as Rainhas da música, cada um deles merecendo uma secção própria.
Curiosa também é a proposta de Hipótese de formação e evolução da Música de Cabo Verde apresentada por Carlos Gonçalves. O “esquema genealógico”, digamos assim, tem por base as componentes culturais básicas do Homem cabo-verdiano – a Cultura Branca e a Cultura Negra – e procura dar conta do processo de evolução musical, num percurso cronológico até desembocar nos géneros como são hoje conhecidos. Merecendo uma melhor explanação, este modelo deverá ser discutido e debatido como uma hipótese possível.
De realçar ainda a Discografia Selectiva no fim de cada capítulo ou secção, a lista da Bibliografia consultada e o Índice Onomástico dos compositores, músicos e intérpretes referenciados no trabalho, que facilitam em muito a consulta e fornecem pistas para outras investigações.
Todo este trabalho aturado de pesquisa e de reflexão resulta num livro rico e de excelente qualidade. O grande mérito desta obra é, a meu ver, o grande esforço posto na recuperação da nossa memória musical colectiva e na homenagem aos nossos músicos, fixando os seus nomes e imagens para a posteridade. E isto faz com que eu considere este livro como pertença de todo o povo destas Ilhas da Música e, particularmente, dos membros da grande família nele referenciados, incluindo os parentes, os aderentes, os amigos e os conhecidos, nos quais nos revemos e nos identificámos.
Um nosso poeta maior, T. T. Tiofe, de seu nome próprio João Varela, foi acusado por críticos literários de arrogância e excesso de auto-estima ao dizer que esperava ter escrito, com o Primeiro Livro de Notcha, publicado em 1975, “um poema de que as minhas ilhas precisam e, em certo sentido, talvez o poema que a minha geração aguarda ou aguardava de mim”. A meu ver, nada mais do que a realidade!
Extrapolando e pondo na minha boca a frase que Carlos Gonçalves teria pudor em usar para não ser acusado de vitupério, afirmo que este é o livro que Cabo Verde precisa e a geração de Carlos Gonçalves aguardava dele! Sim, porque depois de tanto falar e escrever sobre a Música de Cabo Verde, seria um desperdício e uma falta grave se não se abalançasse a fazer algo de maior fôlego, recuperando e aprofundando esses escritos, passando dos ensaios (na dupla acepção do termo, esboço ou experimentação e estudo) para a obra.
Com Kab Verd Band, a Música de Cabo Verde sobe mais um patamar e, para acompanhar a sua dinâmica de internacionalização, com uma audiência cada vez maior, o livro precisa ser traduzido e editado em outras línguas veiculares como o espanhol, o francês e o inglês, ou em edições bilingues, de modo a atingir um outro público, o leitor.
- M. Brito-Semedo
Título: Kab Verd Band
Autor: Carlos Filipe Gonçalves
Edição: Instituto do Arquivo Histórico Nacional
Ano de edição: Praia, 2006
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...