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Músico e Compositor Gregório Gonçalves

 

(S. Vicente, 10.Abril.1920 – 17.Junho.1991)

 

 

Perfazem hoje precisamente dez anos [vinte, nesta data][1] em que deixou o mundo dos vivos o nosso saudoso músico e compositor Gregório Gonçalves que foi mais conhecido por Ti Goi.

 

É com saudades que relembramos essa figura típica do Mindelo que muito fez para a cultura caboverdiana, não só no domínio da música onde se consagrou como um dos melhores compositores do género “coladeira”, mas também como homem do teatro e carnaval.

 

Coladeiras da sua autoria feitas há mais de três e quatro décadas, estão sendo apreciadas e dançadas no mundo inteiro, através dos trabalhos discográficos de Cesária Évora, nomeadamente “Cinturão tem mel”, “Vaquinha mansa”, “Nutridinha” e tantas outras.

 

Falando do carnaval, recordo que nos anos 60 em que decaía o carnaval mindelense, face ao desaparecimento dos grandes grupos “Oriundo” e “Estrela da Marinha”, lá desfilava ele apenas com o seu grupo “Lombiano”, no intuito de animar as ruas da cidade, resistindo assim, estoicamente, ao desaparecimento de uma das mais belas e tradicionais festas de São Vicente. Chegou mesmo a incentivar o surgimento de outros grupos como o “Flor Azul” e “Rio de Janeiro”, para que o “Lombiano” não saísse sozinho e assim haver competição.

 

No domínio do teatro, quem daquela época não se lembra dos bem humorísticos “sketches” e mesmo algumas peças que ele escrevia e encenava para serem interpretadas pelo “Conjunto Cénico Lombiano” e depois do grupo “Selecção de Sucessos” e que muito deleitavam as pessoas que acorriam em massa ao Eden Park e outras salas e quintais com palcos improvisados.

 

Quantos músicos sanvicentinos e não só, que se tornaram famosos e que passaram pelas mãos do Ti Goi. Quantos talentos por ele descobertos. Recordo o Travadinha que ele trouxe de S. Antão ainda jovem e que já era exímio violinista e guitarrista; a nossa Cize, que já na década de 70 registou em singles coladeiras da autoria de Ti Goi; Longino, como vocalista e talentoso actor de teatro, era menino de Ti Goi. Mais tarde, recordo os garotos de então, hoje grandes artistas, que frequentavam a casinha humilde de Ti Goi ali no Lombo, tais como: Tito Paris, Voginha e muitos outros, sempre na mira de beber um pouco da sabedoria desse grande vulto no domínio musical. No início dos anos 80 foi ele quem descobriu a voz de Fantcha através dos ensaios de carnaval no “Grupo Flores do Mindelo”. Muitos outros poderiam ser citados.

 

Com Ti Fefa, Djack Estrelinha, Lela Preciosa e outros fundou o memorável “Conjunto Musical Benitómica” que muito sucesso fez nos bailes de então. Actuava como baterista. Lembro o jeito peculiar que ele tocava esse instrumento, que na altura se intitulava de “Jazz”. Fez umas inovações nas batidas, o que se convencionou chamar “estilo Ti Goi” e que mais tarde foi seguido por outros bateristas de São Vicente.

 

Não foi por acaso que, a partir de 1980 lhe foi atribuído pelo então governo de Cabo Verde uma pensão de sobrevivência como reconhecimento pelo muito que fez pela nossa cultura.

 

Falecido aos 71 anos de idade, Gregório Gonçalves foi realmente quem praticamente dedicou quase toda a sua vida em prol da cultura caboverdiana, mas que, infelizmente, pouco ou nada se tem dito e da sua obra no campo musical. Por ocasião da morte dele foi-lhe dedicado nas páginas do jornal A Semana um belo artigo da autoria do Dr. Moacyr Rodrigues e, a partir daí quase que nada mais, a não ser uma pequena homenagem levada a cabo, há tempos, nos Salesianos.

 

Torna-se, pois, necessário que se dê a conhecer à nova geração e às vindouras a obra no campo cultural que esse homem simples do povo levou a cabo durante a sua existência terrena, senão corre-se o risco de, num futuro não muirto longínguo, cair no olvido essa que foi uma das mais importantes figuras da vida mindelense.

 

S. Vicente, 17 de Junho de 2001

 

António Teodorico Estêvão (Toy Estevão ou Toy de Nhana)

 


[1] O texto foi escrito a 17 de Junho de 2001, portanto, dez anos atrás, garantindo o seu autor que, até à data, não houve qualquer facto que alterasse a situação aqui referida.

 

Coladeiras de autoria de Ti Goi:

 

Nutridinha,

Sabine Largam,

Nho Antone Escaderod,

Rabonhe,

Golosa,

Saiko Dayo,

Canetada,

Vaquinha Mansa,

Juvita de Praça,

Saia Travada,

Pé di Boi,

Amor de Fantasia,

Cinturão Tem Mel,

Corveta,

Sardinha de Ribeira Bote,

Terezinha,

Ingrata.

 

 

NOTA: Recebi indicação do Amigo Veladimir Cruz (Lisboa), filho de B-Léza, que as coladeiras "Nho Antone Escaderod" e "Saia Travada" não são de autoria de Ti Goy, contrariamente ao que aqui foi dito, mas de B-Léza e Luís Rendall, respectivamente. As minhas sinceras desculpas por isso e um obrigado e um grande abraço ao Amigo.

 

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3 comentários

De Valdemar Pereira a 18.06.2011 às 13:55



Grande astro do sistema artístico mindelense (e cabo-verdiano) que foi Gregório Gonçalves, mais conhecido por Goy e, mais tarde, Ti Goy, exímio violista e grande compositor de cujos méritos realça o dono deste sitio, o "mnine de Chã d'Sumter", dr. Manuel Brito Semedo que em boa hora nos trouxe esta enciclopédia e canto de saudade.

Não posso esquecer essa figura que foi parte integrante do Conjunto Benitômica, liderada por Alfredo de Carmo (clarinetista) e Djack Estrela (trompetista), que foram meus convidados para os dois primeiros teatros de Castilho, cujas estreias foram em 31 de Outubro de 1951 ("Clandestinos no Céu") e 4 de Novembro de 1953 ("Clandestinos na Terra").

Convém frisar que, curiosamente, Goy não se apresentava com o seu violão mas sim na bateria e, devemos particularmente a ele, a estreia do que veio a ser o grande cantor - Longino da Cruz, falecido poucos anos.

Por o lugar ser do Goy, é justiça aqui dizer que foi ele quem me apresentou o malogrado cantor, na altura com apenas 5 anos de idade, que havia de estrear cantando e dançando com a sua amiguinha Cândida.

Goy, como os outros, terão para sempre a minha gratidão pelo que também fizeram para o Castilho. Lamento não poder falar dos seus actos depois de 1954, data que tive de deixar o Conjunto e os meus amigos de quem falo no livro "O Teatro é uma paixão - a Vida é uma emoção".

De Brito-Semedo a 18.06.2011 às 19:26

Caríssimo Amigo, Obrigado pela sua contribuição trazendo à colação factos e figuras do mundo do teatro e da música de diazá que muito enriqueceram este post de homenagem a esta grande figura mindelense que foi e que é o Ti Goy!
Desafio-o a aparecer mais vezes por estas bandas e a encostar-se "Na Esquina" para partilhar com os mais novos a sua vasta experiência e conhecimento. Um abraço e votos de bom fim-de-semana!

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