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Esquina do tempo por Brito-Semedo © 2010 - 2015 ♦ Design de Teresa Alves
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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 6 Ago 11
Legenda (Esquerda para a direita) – De pé: Toi (árbitro), Djunga, Tony, Blada, Ilísio, Nhano, Djone e Nhé; De Cócoras: Alberto, Toi, Orlando, Manel de Djinha e Augusto.
NOTA: Foto gentilmente cedida por Luiz Silva, que lhe foi oferecida pelo grande atleta Manuel de Djinha, antigo jogador do Amarante e da Académica, recentemente falecido e a quem o "Na Esquina do Tempo" aproveita para prestar uma merecida homenagem.
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Comentário recebido do Colaborador e Amigo Luiz Silva:
Nos anos cinquenta as selecções de futebol de São Vicente ganhavam a todas as equipas de futebol dos países vizinhos. Nos torneios que se realizavam na Guiné e no Senegal (Dacar e São Luis), a selecção de São Vicente, viajando de barco de riba de sacos de sal e caixotes, conseguiam ir sempre às finais. Nesta fotografia falta o Tuinga (aquela máquina), que quando saía do lado direito os senegaleses gritavam: «Allah, Allah». E não era preciso ir-se buscar na altura jogadores em Portugal, como o Jorge Humberto, Tchol, Rui Maia, Académica de Coimbra; o Du Fialho, no Benfica; o Tai e o Chau, nos Salgueiros; o Armando, no Farense; o Tatacho e o Toni, no Chaves, etc.
Não se compreende que as relações culturais e desportivas com os países vizinhos tenham desaparecido com as independências africanas. A partir do momento em que a política invadiu o espaço desportivo todas actividades desportivas entraram em declínio. Hoje temos uma constituição democrática mas os partidos não são democráticos e as equipas e seus dirigentes identificam-se em termos políticos: assim cada club está sujeito a ser boicotado segundo a opção política dos seus dirigentes. A recente vitória do Mindelense deve ser considerada como o repúdio à intervenção dos partidos na vida desportiva. E se não tivessem acabado com os espaços atrás das balizas, onde as crianças jogavam e ao mesmo gritavam e saltavam quando o Mindelense marcava um golo, a festa teria sido maior.
Um caso triste: o Grémio Recreativo Castilho sofre das consequências dessa politização partidáia do desporto. Somente a rua de Côco fornecia grandes jogadores ao Castilho: Tutcihim de Nha Maria Aniceta, que dava que fazer ao Adérito Sena, ou os mais recentes como Tova (um dos maiores valores do futebol caboverdiano), Manuel Dias e Silvino da Luz, sem esquecer o Tchenga e o irmão Augusto, entre outros. Até algumas fotografias históricas desapareceram da sede do Club. Hoje o Castilho, que possui uma infraestrutura importante (ténis, futebol, teatro, sala de actividades culturais), não consegue constituir uma direcção à altura das suas ambições históricas devido às contradições políticas em que navega a maioria dos seus sócios. Na rua, nas esquinas, nos bares, todos criticam o Castilho e a sua direçcão, mas ninguém é capaz de pôr o dedo nas feridas que ditaram a morte do Castilho e apoiar as novas direcções que fazem tudo para manter viva a tradição cultural e desportiva castilhanas.
O fanatismo clubista foi substituído pelo fanatismo político: nas manifestações políticas distribui-se prendas, camisolas, promete-se mundos e fundos depois da vitória. E não vai nenhum apoio para os clubes desportivos. E quando se vai ao estádio, as tribunas estão vazias e até antigos desportistas passaram do futebol para a política. Todas as equipas tinham dirigentes que davam tudo pela sua causa. Vejamos o Evandro, no Amarante, que construiu uma grande infraestutura desportiva e não deixou uma casa à sua mulher e filhos; o Senhor Afonso, do Derby, que fez tudo por esse club; o Djê Griguim, na Académica; Nhô Damatinha, Ti Djô Figuera, Djô de Jom do Chico, Blada, no Mindelense, etc.
E quem fala do futebol diz o mesmo do golf, reduzido a um pequeno grupo que deseja, com o apoio dos políticos, vender o club aos estrangeiros. O cricket, que também foi um desporto da elite mindelense, está quase a morrer. Aqui já apresentámos a elite do golf em 1953 e em breve faremos um comentário sobre o cricket que os Mindelenses levaram às outras ilhas, assim como todos os desportos ao litoral africano e até à Argentina, Brasil e Estados Unidos. Porque é que essas modalidades não estão integradas no ensino desportivo liceal e técnico? Porque não existe ainda uma federação do golf ou do cricket em Cabo Verde para desenvolver estas modalidades desportivas no país?
A política do desporto em Cabo Verde continua a falhar devido ao centralismo do Estado. A regionalização é fundamental para o desenvolvimento de todas as actividas desportivas e culturais. Repito, temos uma constituição democrática mas os partidos não são democráticos e nem capazes de uma reflexão democrática sobre o regionalismo. O regionalismo não é bairrismo. Parece-nos fundamental para o desenvolvimento economico, cultural e desportivo de Cabo Verde.
- Luiz Silva, Paris, 5/8/2011
Tenho-me emocionado, confesso-o sem rebuço, desde que alguns factos e acontecimentos do Mindelo de outrora vêm sendo relembrados neste Blogue. Voltou a acontecer agora que o Luiz Silva uma vez mais veio a terreiro, desta vez para nos presentear com um belíssimo texto sobre a memória do nosso desporto, mas com importantes recados de natureza política de permeio. Como ele bem diz, o desporto, isto é o associativismo desportivo, deve poder viver e respirar longe da malfadada influência política, coisa que actualmente não sucede na nossa terra. Pois sem dúvida, mas as coisas ficam ainda piores quando o poder político e os sectores sociais sob sua influência directa (comunicação social) se aproveitam do desporto para dividir os cabo-verdianos, mediante a sua preferência elitista por tudo o que tenha assento na ilha capital. Isto tem tanto de obsceno e condenável como de ridículo e pacóvio paroquialismo.
Detesto voltar à vaca fria, mas reparem que as selecções cabo-verdianas de tempos idos eram constituídas quase só por atletas de S.Vicente. Não se pode dizer que isso resultava de influência política se o governador e as secretarias regionais estavam sedeadas na capital. Pois claro que não. O desporto nasce e floresce mercê da livre iniciativa dos cidadãos, bem como actividades culturais como o teatro, a música, o carnaval e certas festividades. Veja-se que por alguma razão Mindelo era considerada a capital cultural de Cabo Verde. Portanto, sopesando toda a sorte de razões e motivações que parece assistir àquilo que para mim não passa de inacreditável anquilosamento do poder, a explicação só pode ser uma. Revanchismo político, na ingénua tentativa de um ressarcimento histórico que não faz sentido. Ainda há poucos dias, por mera casualidade, cliquei no canal RTP África e estava precisamente a ser emitido o programa “Nha Terra Nha Cretcheu”. Mais uma vez, era a publicitação da ilha de Santiago, suas gentes, sua cultura e seu batuque. Saiu-me da garganta um insonoro: “Não é possível”.
Continua…
Continuação…
Bem, possível é, mas não é minimamente crível e aceitável que tão descaradamente se publicite uma ilha e a sua cultura e se omitam as restantes, omissão com a acintosa intenção de prejudicar a ilha rival.
Como diz o Luiz, a razão funda destes espúrios fenómenos divisionistas é exactamente a pouca ou nula formação democrática do actual partido no poder. Nada contra a ilha de Santiago e a capital, que têm valores e potencialidades para se afirmarem naturalmente e por si próprias no contexto nacional, mas nunca à custa do apagamento forçado das outras ilhas.
Apreciei imenso rever as caras dos nossos jogadores seleccionados no antanho. E o golfe e o cricket foram mais uma vez aqui relembrados como modalidades nascidas em S. Vicente. O que acho irrealista, Luiz, é a possibilidade de estas duas modalidades constituírem disciplinas curriculares no nosso ensino. Entre outras razões, são demasiado específicas e materialmente exigentes para que isso seja alguma vez possível. Em Cabo Verde como em qualquer parte do mundo. Bom seria, isso sim, se os mindelenses retomassem a sua prática como nos tempos antigos.
Na verdade, Brito Semedo, o Luiz e o Valdemar carregam uma memória de se lhe tirar o chapéu.
Um grande abraço a todos, esperando que aparecem aqui mais mindelenses a botar palavra.
Adriano
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Olá Brito Semedo. Também apresento m/condolências ...
Bom dia,Apraz-me realçar que li, atentamente, o te...
Boa-noite. Que eu saiba, as crónicas do Nhô Djunga...
O comentàrio do meu amigo Luiz merece o lugar e o valor, e podia-o enriquecer com mais algum argumento que poderà vir a aparecer aqui ou em outra ocasião. Mas acho pertinente na parte onde fala do Castilho acrescentar que, depois de ter perdido a sua grande equipa de futebol, o Grémio Castilho passou a ser dirigido não sei por quem. Basta dizer que é uma equipa que, com 80 anos de existência, mudou de uma pequena sede no ângulo da Rua de Murguine (pouco depois da sua fundação) para o lugar onde està. Que era proprietàrio da maior parte do terreno da Fontinha e de uma casa cuja renda pagava todas as despesas administrativas; casa essa que foi "vendida" ao presidente.
Também queria dizer que, antes do Afonso (de certo depois de 1954) quem andou com o Derby às costas foi um dos seus sôcios fundadores, grande carola que deu a casa onde morava "porque era melhor para a sede": João Oliveira Santos, Jom Bintim. Derby nunca mudou da sede ali na antiga Salina.
Luiz, isto falta na tua enciclopédia e estamos a relatar o melhor possivel porque tudo vai ficar para a Histôria do Desporto em S. Vicente.