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Marginal.jpeg

Foto Arquivo Histórico Nacional (IAHN), Praia

 

 

 

Já m’ fui mnine d’ nha luta

e  d’ nha caláca;

d’ nha bisca e d’ nha batota 

na CORÊ ô na CRACA 

 

Já m’ andá ta vendê;

tâ catá; 

tâ juntá páia; 

tâ rocegá carvôm;

 

tâ frá da lí ma da lá;

tâ dormi n’ arêa,

traz dum cambota

ô na pedra de tchôm.

 

Já m’ andá embarcóde

d’ foguêr;

d’ crióde;

d’ cuznhêr; 

bem bstide, bem calçode,

t’ oiá munde, tâ juntá dnhêr…

 

E já m’ bâ e já m’ bem;

já m’ torná bá e torná bem;

e alí’ m lí, de pê na tchôm,

sem um vintém, sem um tstôm,

tâ crê torná bá…

ma pa torná bem...

 

– Sérgio Frusoni

in A Poética de Sérgio Frusoni, Uma Leitura Antropológica

 

 

Frusoni.jpeg

Foto gentilmente cedida pelo filho Fernando Frusoni

 

Sérgio Bonucci Frusoni

 

(S. Vicente, 10 de Agosto de 1901 – 25 de Maio de 1975)

 

 

 

 

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13 comentários

De Adriano Miranda Lima a 08.08.2011 às 16:07

Depois de enviar o meu comentário, em que lamentava não poder recuperar um texto que escrevi sobre o Sérgio Frusoni, eis que se me fez luz no espírito ao lembrar-me de que o ciberespaço opera autênticos milagres. Assim, fiz uma busca e apanhei o texto encostado a uma qualquer “esquina do tempo”. Por isso, aqui está ele. Apenas não insiro as fotos que o ilustravam, para não dificultar o trabalho técnico.


ELOS PRECIOSOS DO TEMPO DAS NOSSAS VIDAS

Adolescente ainda, ao cair da noite na cidade de Mindelo, via-o frequentemente em amena cavaqueira com um grupo de amigos, junto à esquina da antiga Alfândega. À luz entremeada entre o lusco-fusco e o candeeiro ainda meio incandescente, aquele grupo parecia-me algo irreal e suscitava-me natural curiosidade, perguntando-me às vezes sobre que temas versava o diálogo adulto daqueles cidadãos. Mas a minha atenção recaía em especial naquele homem que habitualmente envergava um boné de tons claros a condizer com a indumentária. Sabia que se chamava Sérgio Frusoni, um ser reformulado no ADN da cidade de Mindelo, numa daquelas simbioses naturais que são raras e enigmáticas, dispensando-nos de tentar perceber como pode um italiano tornar-se tão ou mais mindelense que os filhos naturais da terra. No seu próprio dizer poético, ele considerava-se:

PRESENTAÇON(1)

Um fidje de Soncente.
Nascide, criode, lá na ponta d' Praia.
Lá ondê que mar ta sparajá deboxe de bôte,
moda barra dum saia.
Czê qu’un crê? Cantá nha terra!
Companhal na sê dor;
na nobreza d' sê alma;
na pobreza d' sê vida!

“Um fidje de Soncente” que conferiu dignidade poética ao crioulo da sua ilha, celebrando a alegria e a mofineza da alma do “seu” povo ou chorando a dor das suas penas. A mundividência poética e existencial de Sérgio Frusoni coincide principalmente com a história do Mindelo da primeira metade do século XX, mas entorna a memória de tempos anteriores, com reminiscência da antiga abastança quando navios carvoeiros fundeavam na nossa Baía e a alegria era esfuziante na rua da Canecadinha, onde “Mané Jom tava engordá gote na gemada” (2).
Lembro-me da avidez com que eu ouvia o seu programa “Mosaico Mindelense” emitido pela Rádio Barlavento. A voz inconfundível e o tom pausado com que lia divertidos contos e monólogos tornavam imperdíveis aquelas noites, que se transformavam em momentos de reencontro com um imaginário que só um poeta talentoso era capaz de recriar com extraordinária verosimilhança psico-sociológica. A voz de Sérgio Frusoni invadia os lares e ecoava pelos cantos de Mindelo por onde o poeta espalhava retalhos da sua alma que depois recolhia reciclados por uma mágica permuta com a cidade.
Também no teatro o poeta interveio, primeiro, como autor de textos notáveis, e, mais tarde, como dirigente e encenador do Grupo de Teatro do Castilho. A sua obra “Cuscujada”, a primeira opereta em crioulo, e o seu “Vangêle Contod d'nôs Moda”, tradução da versão latina do Novo Testamento de Bartolomeo Rossetti para crioulo de São Vicente, atestam a criativa originalidade deste poeta e a consagração que fez do crioulo da sua ilha.

Continua…

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