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Marginal.jpeg

Foto Arquivo Histórico Nacional (IAHN), Praia

 

 

 

Já m’ fui mnine d’ nha luta

e  d’ nha caláca;

d’ nha bisca e d’ nha batota 

na CORÊ ô na CRACA 

 

Já m’ andá ta vendê;

tâ catá; 

tâ juntá páia; 

tâ rocegá carvôm;

 

tâ frá da lí ma da lá;

tâ dormi n’ arêa,

traz dum cambota

ô na pedra de tchôm.

 

Já m’ andá embarcóde

d’ foguêr;

d’ crióde;

d’ cuznhêr; 

bem bstide, bem calçode,

t’ oiá munde, tâ juntá dnhêr…

 

E já m’ bâ e já m’ bem;

já m’ torná bá e torná bem;

e alí’ m lí, de pê na tchôm,

sem um vintém, sem um tstôm,

tâ crê torná bá…

ma pa torná bem...

 

– Sérgio Frusoni

in A Poética de Sérgio Frusoni, Uma Leitura Antropológica

 

 

Frusoni.jpeg

Foto gentilmente cedida pelo filho Fernando Frusoni

 

Sérgio Bonucci Frusoni

 

(S. Vicente, 10 de Agosto de 1901 – 25 de Maio de 1975)

 

 

 

 

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13 comentários

De adriano Miranda Lima a 08.08.2011 às 16:24

Conclusão…

Quando, em 2002, regressei a S. Vicente, foi-me mostrado o estado de ruína em que se encontrava a casa em que viveu e foi sua propriedade até a vender por ocasião da sua transferência para Portugal. A pessoa que me acompanhava estava convencida de que as autoridades autárquicas velariam para que a habitação se mantivesse inalterável, em memória do poeta. E eu admiti que sim, na ingénua esperança de que a memória do poeta mereceria o seu restauro e a ostentação de uma placa a lembrá-lo para a posteridade. Afinal, estava em causa o poeta que encarnou de forma inigualável a alma do povo do Mindelo e o primeiro a dar larga expressão às virtualidades poéticas do crioulo da ilha.
Há poucos dias, interpretando mal uma notícia do Fernando Frusoni, filho do poeta, inserida no Blogue cultura-adriana.blogspot.com, e convencendo-me de que se mantinha em stand-by uma resolução sobre a Casa, comentei da seguinte maneira:
“O facto de a Casa não ter sido descaracterizada, ampliada em 2 pisos ou com as tais horríveis gaiolas-marquises, pode ter sido por acção da Câmara, que, a ser assim, terá imposto restrições ao novo proprietário. Mas, se não foi, pode ter sido então por um assomo de consciência cívica do proprietário, que logo se apercebeu de que a conservação da traça da Casa era um factor de valorização memorialística, de que, ele, um simples munícipe, até poderá vir a colher dividendos no futuro, se não materiais pelo menos morais, por ser confortante a sensação espiritual de viver onde viveu um vate sem igual no panorama da nossa literatura, um Grande Cabo-Verdiano, do mais puro e genuíno, apesar da sua origem estrangeira.”
Mas, instantes depois, o Fernando comunicava-me que, não senhor, a Casa fora demolida, certamente para dar lugar a uma outra habitação, mostrando-me a respectiva fotografia ilustrativa.
Perante o vazio criado por obra de caterpillar, fiquei sem fôlego, incrédulo, e só me ocorreu este desabafo íntimo: ISTO NÃO TEM PERDÃO! E não tem mesmo perdão tanta falta de gratidão, tanta ausência de sensibilidade cultural que alguns responsáveis pela governação autárquica vêm denunciando. Na minha desolação, lembrei-me então destes versos do poema:

PRACINHA (4)

Igreja
Câmara
Rua da Luz
Camim de cemitério
Um sino e um pontero de reloje
Ta marcá hora d’entrada
E hora de saída
Na camim de nôs vida…

Pois parece que quiseram marcar um caminho sem regresso a um poeta que nunca sairá do coração dos mindelenses por mais que dobre a finados o sino da Igreja ou por mais que o ponteiro do relógio da Câmara rode em direcção ao tempo.

Notas:
(1) Poema Presentaçon de Sérgio Frusoni
(2) Poema “Tempe de Caniquinha”, de Sérgio Frusoni, mais conhecido como “Un vez Soncent era sabe”
(3) Poema “Nha Terra” de Sérgio Frusoni
(4) Poema Pracinha de Sérgio Frusoni





De Brito-Semedo a 08.08.2011 às 19:46

Obrigado, Amigo, por congregar aqui este seu texto sobre Sérgio Frusoni . É o "Na Esquina" no seu melhor, graças aos colaboradores e leitores que tem conquistado! Um abraço!

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