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Sobrados Djar Fogo (3)

Brito-Semedo, 23 Ago 11

Sobrado Álvaro Adolfo Avelino Henrique, conhecido por Dr. Arbi, antes de recuperado

 

Escadaria e Balaustrada Vistas do Quintal

 

Pinturas do Sobrado, que datam de há cerca de 200 anos, de autoria do alemão Ernest Albert Koenig 

 

Fotos gentilmente cedidas por Amélia Sacramento Monteiro, Portugal

__________

 

Comentário recebido da Colaboradora Amélia Sacramento Monteiro:

 

Contou-me a minha prima Dinah Barbosa Henriques, que o Senhor Ernest Albert Koenig, de nacionalidade alemã chegou à Ilha do Fogo num barco, vindo da Alemanha. O barco teve um problema, não se sabe se naufrágio ou avaria, e os passageiros desembarcaram foram prontamente acolhidos de acordo com a morabeza caboverdiana. Um ficou só, passeando à deriva pelas ruas de S. Filipe. O Dr. Álvaro achou estranho o comportamento do senhor e prontamente acercou-se dele e depois de alguma conversa, conseguiu levá-lo para a sua casa de campo, em Maria Chaves.

 

Está claro que o Dr. Álvaro, quis logo ajudá-lo a voltar à pátria, ao que este negava sempre. Aos poucos, foi descobrindo que o senhor triste e ausente tinha muito talento para pintar, mas não tinha material. Depois de muita conversa, o alemão deve ter ganho a confiança do Dr. Álvaro e então contou que tinha estudado Belas Artes na Alemanha, mas que teve que fugir da sua terra pois, sem querer, feriu mortalmente o irmão com uma arma de fogo. O Dr. Álvaro, questionou se se confirmou a morte, mas ele não queria saber da confirmação, de tal maneira que vivia apavorado com a ideia. Com muita diplomacia o Dr. Álvaro obteve dele o nome e o endereço duma irmã e então escreveu a saber das notícias do irmão, sem mencionar que o senhor Koenig estava com ele. A irmã respondeu dizendo que o irmão se tinha recuperado bem, mas que a preocupação da familia era agora com o outro irmão desaparecido.

 

Instalado em Maria Chaves, casa de campo de Dr. Álvaro, o senhor Koenig mandou vir da Alemanha tintas e pincéis e deu início a um trabalho maravilhoso de pintar o lindo casarão de Maria Chaves, desde paredes até aos tectos, numa pintura linda, que ainda chegou á nossa geração. Lembro-me das pinturas como se fosse hoje.

 

Depois veio para a cidade e pintou também o sobrado do Dr. Álvaro com lindas pinturas, as fotos de hoje. O sobrado possui lindos vitrais também pintados por ele.

 

O senhor Ernest Albert Koenig casou-se com a nha Mariquinha e tiveram dois filhos. Segundo sempre ouvi dizer, não sei se verdadeiro ou não, partiu depois para os Estados Unidos e nunca mais voltou ao Fogo. Escreveu uma carta à esposa, afamada costureira, mandou-lhe uma máquina de costura e até hoje não se sabe o fim dele. Conheci os dois filhos, os netos e os bisnetos.

__________

 

Comentário recebido de Vladimir Koenig, Neto de Ernest Albert Koenig, Brasil

 

Aquele sobrado foi meu e da minha irmã até há 3 anos quando a vendemos, depois de 100% recuperado. Há uma inversão do nome do meu avô que é ERNST ALBERT KOENIG. Tenho a certidão de nascimento dele. Ele era pintor e músico e chegou a reger a orquestra sinfônica de Viena no final do século XIX. Realmente foi para EUA e nunca mais se soube dele. Alguns acham que ele voltou para a Alemanha, para a cidade natal dele, Meherane. Estive lá e um Koenig de lá me disse que um túmulo lá é dele. Não pesquisei a respeito. Ele, quando chegou ao Fogo, não se sabe como, vinha da Alemanha de onde decidiu sair por causa de uma desavença na família motivada por um duelo com o irmão mais novo. Como ele era exímio esgrimista, feriu o irmão (mas não matou) que era o “codé” da família. Meteu-se num barco, não se sabe qual e foi dar com os costados no Fogo. Agora, o sobrado, não foi dele. Foi o meu pai que o adquiriu em 1947 e o reformou completamente, sem modificar, absolutamente nada e eu vivi nela até 1961, quando fui para a Guiné. Vai de uma rua a outra e tem 18 cômodos. Não havia como modificar a estrutura porque as paredes têm uns 80 cm de espessura e feitas de cal, cimento, areia e gordura de baleia. Me lembro da trabalheira que deu para reparo quando o pedreiro disse ao meu pai que “aquele emboço é impossível de quebrar”. Foi quando o meu pai falou com o amigo dele, Nhô Nelinho Sacramento Monteiro (pai da Amélia), mestre de obras, e este falou sobre os materiais de que eram feitas as paredes. Há no quintal, térreo, um “tronco” de ferro para amarrar escravos que está lá até hoje. Quem conhece bem e escreveu sobre a família, é o Jorge Brito, professor universitário, na Praia.

 

Um abração amigo do VKoenig

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

8 comentários

De João Sá a 23.08.2011 às 06:42


Bom dia prezado :)
Este belíssimo post está em destaque "Na Rede" na homepage do SAPO Cabo Verde (http://sapo.cv).

De Patricia a 23.08.2011 às 12:25

Como eu gostaria que as pessoas pudessem ver a importância desses edificios para a nossa história, a nossa identidade e a nossa cultura. Sem falar na beleza que carregam consigo...enfim...Existem muitas coisas que não batem certo nesta terrinha e que não consigo perceber...

De Brito-Semedo a 24.08.2011 às 13:25

Patrícia, legislação, firmeza, educação, informação e sensibilização é o que se deve fazer. As autoridades municipais e centrais tem que assumir ou ser chamados a assumir as suas responsabilidades de preservar as nossas memórias!
Braça!

De Adriano Miranda Lima a 23.08.2011 às 19:53


É importante dar a conhecer toda esta realidade da História de Cabo Verde, História que não pode ser apenas vista sob a perspectiva de um passado colonial de exploração e miséria, como pretendem os que radicalizam a análise histórica na simples relação de classes. Entender o presente e construir uma visão correcta do nosso processo de desenvolvimento exige resgatar o passado exactamente como ele foi e analisar as suas ocorrências e variáveis sem complexos e constrangimentos mentais. Por isso, alguém afirmou que estudar a História é um paradoxo porque ou se viaja em direcção ao passado ou se traz o passado para o presente.


Ora, o passado da ilha do Fogo diz-nos que os proprietários abastados, construtores destes sobrados, foram os grandes protagonistas do desenvolvimento e progresso da ilha do Fogo, mercê do seu espírito de iniciativa e do seu saber.  Mais, a sua influência exerceu-se  para lá dos limites da ilha do Fogo, mercê de uma valorização social e cultural em toda a linha, de que resultou figuras notáveis na administração pública, nas forças armadas e em outros importantes sectores da vida nacional.


A história de Cabo Verde resulta do emassamento sociológico de tudo o que aconteceu nas suas ilhas, nela cabendo tanto o sobrado dos ricos como o casebre dos pobres, tanto os que atingiram altos degraus sociais como os que lutaram pela sobrevivência.


Com este post fiquei a saber quem foi o antepassado mais remoto do meu amigo Vladimir Koenig, residente no Brasil.

De Adriano Miranda Lima a 24.08.2011 às 17:09

Transcrevo, na parte que interessa, a resposta que me deu o meu amigo Vladimir Koenig quando lhe disse que o seu antepassado alemão tinha sido mencionado neste blogue. Por me parecer interessante, aqui vai:

Bom dia, Adriano:           
Obrigado. Já conhecia. Aquele sobrado foi minha e da minha irmã até há 3 anos quando a vendemos, depois de 100% recuperada. Há uma inversão do nome do meu avô que é ERNST ALBERT KOENIG. Tenho a certidão de nascimento dele. Ele era pintor e músico e chegou a reger a orquestra sinfônica de Viena no final do século XIX. Realmente foi para EUA e nunca mais se soube dele. Alguns acham que ele voltou para a Alemanha, para a cidade natal dele, Meherane. Estive lá e um Koenig de lá me disse que um túmulo lá é dele. Não pesquisei a respeito. Ele, quando chegou ao Fogo, não se sabe como, vinha da Alemanha de onde decidiu sair por causa de uma desavença na família motivada por um duelo com o irmão mais novo. Como ele era exímio esgrimista, feriu o irmão (mas não matou) que era o “codé” da família. Meteu-se num barco, não se sabe qual e foi dar com os costados no Fogo. Agora, o sobrado, não foi dele. Foi o meu pai que o adquiriu em 1947 e o reformou completamente, sem modificar, absolutamente nada e eu vivi nela até 1961, quando fui para a Guiné. Vai de uma rua a outra e tem 18 cômodos. Não havia como modificar a estrutura porque as paredes têm uns 80 cm de espessura e feitas de cal, cimento, areia e gordura de baleia. Me lembro da trabalheira que deu para reparo quando o pedreiro disse ao meu pai que “aquele emboço é impossível de quebrar”. Foi quando o meu pai falou com o amigo dele, Nhô Nelinho Sacramento Monteiro (pai da Amélia), mestre de obras, e este falou sobre os materiais de que eram feitas as paredes. Há no quintal, térreo, um “tronco” de ferro para amarrar escravos que está lá até hoje. Quem conhece bem e escreveu sobre a família, é o Jorge Brito, professor universitário, na Praia.
Um abração amigo do VKoenig     

De Brito-Semedo a 24.08.2011 às 18:26

Caro Amigo, Obrigado por ter levado e trazido informações esclarecedoras do Koenig , Filho, para os leitores do "Na Esquina" e pedimos seja portador das nossas mais vivas saudações!

Um abraço e continue fiel colaborar do "Na Esquina"!

De ameliasantarita@yahoo.co.uk a 07.09.2011 às 10:51


Li o comentário do Vavá Koenig e ainda bem que corrigiu o nome do avô.

O Sobrado cuja foto  foi publicada  antes e depois de recuperado pertenceu ao Dr. Abri e agora á Matilde e Orlando Barbosa Vicente.

Ninguém disse que foi do Senhor Koenig. O sobrado que foi do meu trisavô Joaquim Monteiro de Macedo, foi vendido ao Senhor Cabral e este mais tarde vendeu á D. Lia Henriques. Foi comprado pelo Senhor Alberto Koenig nos finais dos anos cinquenta e depois de herdado pelo Vava e irmã e foi vendido a um dimarques. Fica na Praça no Centro Histórico. O Dr. Arbi todos nós o conhecemos como ca nha Lala Henriques e fica num largo que vai ter ao Alto S. Pedro. Nada de trocar sobrados.
Mantenhas Amelia

De S Cooper a 15.03.2017 às 17:14

Does anyone here know anything about a painter who signed his works "Koenig Rio" and who worked in the area around Rio de Janiero Brazil from the 1930's to the early 1960's.  Any useful information will be much appreciated. 


Thank You 

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