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Vista da Cidade do Porto Novo, Foto Sónia Jardim, 2004

  

Sónia Jardim, Portugal

 

Do oceano nasce a vida, a vida transforma-se em terra, criando um novo dia, o nascimento de uma cultura ávida de saber e profundamente sábia... a cultura cabo-verdiana.

 

Santo Antão, a ilha de Santo António do Egipto.

 

Embora não evoques o Santo António de Lisboa, o teu nome apela ao milagre, ao santo casamenteiro... Todos que te visitam contigo casam.

 

Eu, como João Piquinote, pouco te ofereci, ou talvez não... Ao mar, uma isca também atirei: “Para ti, mar amigo, e para teus peixes”.

 

E, como João Piquinote, o milagre aconteceu: um esticão na minha linha, um peixe-sereia que me pediu para soltá-la em troco de um fio do seu cabelo.

 

No fio do teu cabelo, Santo Antão, ofereceste-me todos os desejos do mundo e, com enorme bondade, ofereceste-me o que está para além, o mar e o céu...

 

Escrever sobre Santo Antão é escrever sobre a magia que envolveu o meu ser quando visitei pela primeira vez aquelas terras mágicas.

 

Escrever sobre Santo Antão é também escrever sobre o passado da minha família Jardim, é escrever sobre as histórias que a minha mãe me contava e acompanharam a minha meninice, as vindas da minha avó Anita a Portugal, os Natais em casa dos meus pais em que o Reverendo Mosteller e sua esposa Mrs. Gladys eram presença constante.

 

A “minha família Jardim” é mais do que uma família, são todas as famílias que trago no coração, todas as famílias de Santo Antão, todas as famílias de Cabo Verde.

 

Escola EBI de Lagedos, Foto Sónia Jardim, 2011

 

Esta fotografia anseia por falar e “Na Esquina do Tempo” deu-lhe voz: Dezassete horas, desci até à porta da Escola Primária que confina com a  propriedade da minha avó Anita, a Escola Ana de Anunciação Jardim.

 

Entrei.

 

Uma escola extremamente asseada, todas as salas com as portas abertas, os mais velhos terminam o dia com a aula de expressão plástica. Hoje podia estar em comunidade com todas as crianças de Lagedos, pois era dia de aulas.

 

A 25 de Março de 2003, dia em que a minha avó comemorou 84 anos, a Escola Primária de Lagedos recebeu o seu nome e toda a povoação, juntamente com um representante do Governo e vários professores, prestaram-lhe uma grande homenagem, tendo sido estipulado que todos os dias 25 do mês de Março seriam dias de grande festa em Lagedos.

 

Escola EBI de Lagedos, Foto Sónia Jardim, 2004

 

Quando as crianças saíram da sala reinava a alegria. Todas sorriam para mim e, voando em nuvens de felicidade, com os olhos mais belos que alguma vez vi, dirigiram-se no meu sentido. As crianças respeitam o espaço dos seus semelhantes, não mendigam, nem tão pouco pedem. Sempre impecavelmente limpas e arranjadas. As meninas com os cabelos muito cuidados. A pobreza acaba por passar despercebida...

 

Lagedos é um Paraíso particular dentro do Paraíso de Santo Antão.

 

Logo que o carro cruza a fronteira marcada pela tabuleta “Lagedos”, cumprimentos e saudações constantes.

 

Sentar-me no muro, à porta de casa da avó. Contemplar a montanha, o céu, a casa de Djôn Júlio, receber as saudações dos carros, escassos, normalmente carrinhas de transporte colectivo, que passam na estrada.

 

A ausência de poluição permite que o som dos pássaros se propague mais facilmente e a variedade de cantares é tão grande que transporta qualquer ser para terras paradisíacas, terras ainda não profanadas pelas pegadas humanas, terras em que todas as aves se chamam Aves do Paraíso. Ao olhar para o céu contemplo o Gongon uma ave marinha que nidifica nos locais montanhosos, a Cagarra e muitas, muitíssimas, mais aves para serem veneradas.

 

Santo Antão permite que o passado, que tanto me fascina, fique para sempre eternizado...

 

... A chegada da minha tetravó Ludovina Quitéria Lima, vinda de Portugal, acompanhada por um irmão e escravos, incumbida de cumprir uma missão a mando do Rei de Portugal.

 

... A chegada, no século XIX, do meu trisavô António Leite Pereira Jardim, vindo de Coimbra, para exercer o cargo de Juíz de Direito na Comarca do Barlavento.

 

... O meu trisavô, António Luís Delgado, o “benemérito proprietário” como era conhecido, extremamente generoso com as populações da região, ajudando os flagelados pela fome e varíola, evitando contágios da doença através de importantes medidas preventivas e de saúde pública.

 

... O carácter interventivo de António Luís Delgado, presidente da Comissão de Assistência, que sempre defendeu os mais desfavorecidos. O seu papel crucial na crise de fome vivida em 1921.

 

... A intervenção, fulcral, de António Luís Delgado na construção da estrada para o Sul da região da Ribeira das Patas, o que levou a que fosse visitado pelo Governador e pelo General Viriato Gomes da Fonseca.

 

... As visitas frequentes de várias entidades oficiais e Governadores que, habitualmente, permaneciam na casa de Chã de Alecrim.

 

... A construção, por indicação e ajuda da minha família, de várias pontes e estradas com o consentimento do governo Português.

 

... O papel fundamental da minha família no desenvolvimento do sistema hidráulico e consequente distribuição de água, através da implusão de uma mina no Norte de Santo Antão....

 

A maçonaria...

 

... A personalidade forte e determinada do meu bisavô José Pereira Jardim, o qual muito contribuiu para o desenvolvimento das freguesias de São João Baptista e Santo André, na ilha de Santo Antão, com as suas intervenções junto do Governandor da Colónia de Cabo Verde.

 

... O grande amor de D. João José de Carvalho Daun e Lorena, filho do 5.º Marquês de Pombal, por minha avó Anita.

 

... O período de seca devastadora vivida durante a 2ª Grande Guerra, em que o povo enfrentou enormes dificuldades. A Família Jardim ajudou muitos dos que não tinham o que comer e, como tal, faziam as suas refeições nos anexos da nossa casa de Chã de Alecrim. A minha avó Anita, também para ajudar, e com o consentimento dos meus bisavós, em noites de lua nova, acompanhava os empregados que, montados em cavalos, se dirigiam para uma praia em que os submarinos alemães deixavam produtos alimentares. E isto sendo o meu bisavô um grande defensor de Churchill.

 

... Os verdadeiros tratados de ciência do meu trisavô António Luís Delgado, a rica biblioteca do meu bisavô José Pereira Jardim...

 

Santo Antão é mais do que o passado. É o Presente e o Futuro... que ainda serão História.

 

Cabo Verde Feiticeira

Rainha do Atlântico

Com teu jeito de brincadeira

 

Enfeitiças com teu cântico

Materialmente, podes ser pobre

 

Mas, espiritualmente, bem rica

Um povo sempre nobre

E um ar que purifica

 

Oh linda Feiticeira

No oceano plantada

Quem passa à tua beira
Por ti é encantada

 

 

Nota: Perdoem-me todos os que já adoptaram o novo Acordo Ortográfico mas, eu, como muitos, mantenho-me ainda fiel à escrita “antiga”.

 

 

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20 comentários

De Adriano Miranda Lima a 26.09.2011 às 00:29

Gostei de ler este relato emotivo sobre a ilha de S. Antão. Mas sou suspeito porque, embora mindelense, grande parte do meu ser espiritual radica na chamada ilha das montanhas. Não é por ter 2 avós naturais de S. Antão (avó materna e avô paterno), é porque adoro a ilha, não direi mais do que S. Vicente, mas com um sentimento inigualável. Gosto de S. Vicente por ser a ilha onde nasci, onde me criei e onde a minha personalidade  encontrou todas as mundividências para se forjar e se afirmar nas suas fundações essenciais. Mas alguma coisa de metafísico explicará por que bastou ter passado 4 meses em S. Antão com a minha avó, aos 6 anos, e mais tarde, 3 meses, aos 13 anos, para ficar para sempre enfeitiçado.
Não conhecia a família Jardim, de S. Antão, mais propriamente de Lagedos (ou Lajedos?). O curioso é que o meu avô paterno, natural da Ribeira da Torre, tinha, por herança, uma propriedade agrícola em Lajedos, que foi vendida em 1953, tendo o meu pai ido lá acertar a transacção.
O texto da Sónia é carregado de poesia  e é também um interessante testemunho familiar. Registo, com grande interesse, o episódio que ela refere sobre os submarinos alemães que descarregavam alimentos numa praia. Isto demonstra como é realmente complexa, e por vezes insondável, a natureza humana. Os mesmos submarinos que, obedecendo a ordens superiores, ceifavam vidas humanas no Atlântico, tentavam aliviar a fome de criaturas desconhecidas que habitavam uma ignota ilha no mesmo oceano.
Esperemos que a Sónia pareça mais vezes neste Blogue e nos fale de S. Antão.

De Valdemar Pereira a 26.09.2011 às 09:43




 

Este relato me encheu de saudades dessa região (particularmente Ribeira das Patas) e dessa Família.

Santo Antão minha ilha de estimação.Raro é o menino de Soncente que não tem um familiar dessa ilha? Pessoalmente tenho a avô materna e a bisavô paterna. Estive na Janela durante um ano escolar, época que registei com intensidade na minha vida. Na quarta classe fui, temporariamente, aluno do sr. José Jardim e, por volta dos meus dezassete anos, fiz conhecimento da D. Isabel Jardim Oliveira (também professora) e do seu marido, casal de uma grande simpatia e educação. Nunca esqueci o acolhimento tive, aliás, como o meu tio que ali foi para examinar os alunos da primária. A bondade da D. Isabel, pessoa de uma excelsa educação e beleza, me marcou. Pouco tempo antes da nossa chegada (dias, talvez) nascera-lhe o primeiro descendente.

 

Depois da leitura do que regista "Na Esquina do Tempo" a minha ansiedade aumentou e espero chegar a Portugal depressa para descobrir mais dessa região e da História da Família Jardim, uma das distintas da nossa Terra. 

 

Outra coisa: - Tem a minha desculpa porque também não adiro ao novo acordo ortográfico. Por  ser velho e por várias outras razões.

De Sónia Jardim a 26.09.2011 às 23:43

Boa Noite, com emoção li as palavras em que refere que foi aluno do meu bisavô José Pereira Jardim e que conhece a minha tia-avó Isabel Jardim Lima, a Dinha, assim como o meu tio-avô Joãozinho Lima.

Não sei se já teve oportunidade de ler "Família Jardim - O Segredo", um fervilhar de sentimentos e de descobertas que penso que seriam do seu agrado.

Muito obrigada pelas amáveis palavras em relação à minha Família.

Quanto ao acordo ortográfico,tal como o Valdemar, não me revejo no mesmo.

Braça,
Sónia Jardim




 

De Alverino Alves jardim a 30.07.2016 às 00:29

Também tenho muiiiiiiiito orgulho de minha família. 

De Adriano Miranda Lima a 26.09.2011 às 21:08

“A intervenção, fulcral, de António Luís Delgado na construção da estrada para o Sul da região da Ribeira das Patas, o que levou a que fosse visitado pelo Governador e pelo General Viriato Gomes da Fonseca”.


Transcrevo esta passagem do interessante relato da Sónia Jardim apenas para fazer um comentário relativamente a Viriato Gomes da Fonseca. Este oficial fora colocado na colónia como Chefe dos Serviços de Agrimensura, o que corresponde a Obras Públicas. É isto que talvez explique, entre outras razões, como a amizade ou o conhecimento pessoal, a sua visita por ocasião da construção da estrada em S. Antão. Mas ele não era general na altura nem nunca esteve colocado em Cabo Verde como general, como algumas pessoas tendem a pensar. E nem podia acontecer, posto que o quadro orgânico da colónia quando muito previa o posto de coronel para o cargo de comandante militar da mesma.


Acontece que Viriato Gomes da Fonseca fez mais do que uma comissão em Cabo Verde, sua terra natal (S. Antão). Primeiro como tenente e colocado na Companhia de Artilharia de Guarnição S. Vicente), entre 1897 e 1901. Em 1903, já capitão, é novamente colocado em Cabo Verde, como comandante da referida companhia, permanecendo até 1907. Em 1915, já major, é colocado como chefe dos Serviços de Agrimensura, sendo promovido a tenente-coronel 2 anos depois. Promovido a coronel ainda no ano seguinte, regressa à Metrópole. Mas em 1921 regressa de novo à nossa terra para a mesma função, permanecendo por um período de 2 anos. Refira-se que mesmo nas anteriores funções militares, como capitão, desempenhou em acumulação cargos civis, nomeadamente na área das obras públicas (visitando mais de uma ilha) e mesmo como administrador interino em S. Vicente.


A partir de 1922, está na Metrópole e exerce actividade política, pertencendo a um partido e tendo sido um parlamentar de grande prestígio. Talvez isto explique que tenha passado à reserva em 1925, mas vindo a ser promovido a general em 1926, o que em circunstâncias normais não pode acontecer. Mas naqueles tempos conturbados da I República tudo era possível. Ou seja, é provável que por revanchismo político não tenha sido promovido a general quando lhe competia, só o tendo sido quando o seu partido regressou ao poder.


Este nosso conterrâneo foi um oficial de elevada craveira e um distinto cidadão.

De Sónia Jardim a 26.09.2011 às 23:32

Boa Noite, obrigada pelas suas amáveis palavras. É extremamente gratificante partilhar as vivências e sentimentos que envolvem a nossa alma naquelas terras mágicas e que nos "prendem" para sempre.
Com agrado verifiquei que também é um apaixonado por Santo Antão.

Relativamente ao General Viriato da Fonseca, o meu trisavô, por várias razões, sempre se referiu ao mesmo como sendo o "General". Pude constatar em vários documentos do meu trisavô que ele fazia questão de lhe atribuir a patente de General, embora sabendo que ainda não o era...
O episódio, a que faço referência no "Família Jardim - O Segredo", relativo à visita do General não se prendeu por razões de amizade, mas sim porque, durante a construção da referida estrada, num período de grave crise agrícola, um condutor de sobrenome Freire recebeu ordens para suspender os trabalhos e o meu trisavô, demonstrando que tal atitude colocaria em perigo a vida de muitas pessoas, assumiu a responsabilidade de continuação da obra. De seguida, dirigiu-se ao antigo Porto dos Carvoeiros e expediu dois telegramas, um para São Vicente, pedindo mantimentos e outro para o Ministro das Colónias em Lisboa, inteirando-o sobre a situação vivida, facto que, à data, originou o descontentamento do General.
Este episódio pode ser lido na íntegra no "Família Jardim - O Segredo".

Os restos mortais do General Viriato e outros membros da sua família encontram-se depositados no jazigo em nome do General Viriato Gomes da Fonseca, no cemitério de Oeiras.

Existiu, em Mindelo, uma rua com o nome do general Viriato Gomes da Fonseca, tendo sido retirada após a independência das Ilhas.

No que concerne à minha forma de escrever "Lagedos", foi assim que o meu bisavô, avó e tias-avó sempre ensinaram, pelo que preservo o ensinamento.

Braça,
Sónia Jardim

De Adriano Miranda Lima a 27.09.2011 às 15:00


 


Sónia, tudo o que mete S. Antão tem a virtude de me acicatar o ânimo da palavra, daí que me apetece prestar mais alguns esclarecimentos relativamente à sua última intervenção, que muito agradeço.


Primeiramente, sobre o general Viriato Gomes da Fonseca. Como eu saí de Cabo Verde muito novo, perdi a corrente normal dos testemunhos familiares (os verbais e directos), pelo que, acredite, só há cerca de 20 anos passei a saber da existência daquele militar nosso conterrâneo. Eu tinha então em Lisboa uma tia paterna que era tida como a fiel portadora da memória familiar mais antiga. Infelizmente, faleceu há 3 anos. Um dia, visitando-a, pedi-lhe para me transmitir o que sabia acerca dos nossos antepassados mais remotos. De boa vontade, ela satisfez toda a minha curiosidade. Ao falar-me da família do lado paterno, explicou-me as origens dos seus avós (Ana Francisca Costa de Oliveira Lima e Manuel António Lima) e  suas vivências em S. Antão, de onde eram naturais. A dado passo, contou que ambos os avós (que por sinal eram primos entre si) recebiam com frequência a visita do “general” Viriato Gomes da Fonseca, também primo de ambos, e que, para além dos laços de parentesco, o “general” tinha uma afeição especial pela Ana. Mais contou que, como o “general” era um exímio tocador de instrumentos de corda, faziam uns bailes e ele se regalava em ser o par dançarino da Ana (não sei se com ciúmes do marido), dizendo-lhe que “ela dançava como um passarinho a voar”. Não é por eu ser bisneto, mas a verdade é que a Ana era uma mulher bem bonita, como, aliás, o comprova uma foto muito antiga em meu poder.


A linha genealógica diz que, de facto, havia um laço de parentesco entre o “general” e os meus bisavós. O  meu bisavô era neto de Martinho de Lima e Melo e de Aniceta Gomes da Fonseca, enquanto a descendência da bisavó Ana entroncava igualmente num ramo ligado àqueles meus remotos parentes. Ora, o “general”,  filho de Manuel Gomes da Fonseca, era, por conseguinte, descendente da família de Aniceta Gomes da Fonseca. Daí, a “primagem” entre eles, e o facto é que, como me disse a minha tia, eles tratavam-se por primos.


 


(Continua)

De Adriano Miranda Lima a 27.09.2011 às 15:15

(Continuação)

Então, perante o que eu ouvi da tia, exclamei: “Oh, pensava eu que era o único militar no historial da família e afinal até houve um parente que foi general. Mas a questão do posto do militar ficou-me atravessada porque não entendia como uma colónia como Cabo Verde pudesse ter um general no quadro orgânico das suas forças militares. E esbocei a dúvida porque, como sou militar, percebo destas coisas, por dever de ofício.


E foi assim que não tardei a pesquisar sobre o percurso militar de Viriato Gomes da Fonseca, tendo obtido no Arquivo Geral do Exército os dados que eu referi no meu comentário anterior.


De facto, ele nunca serviu como general em Cabo Verde. Quando atingiu esse posto, e já na reserva, tinham-se passado 8 anos desde o seu último serviço em Cabo Verde, que foi nos postos de major e  tenente-coronel.


Mas compreende-se que quando as pessoas se referem a ele o tratem naturalmente pela patente que viria a ter mais tarde. É o que fez o seu trisavô e a minha tia.


 


Sobre "Lagedos", como já referi, ouvi pela primeira vez falar do nome quando, em 1953,o meu pai foi lá vender uma propriedade do seu pai (meu avô), herança da sua mãe, a referida Ana Francisca Costa de Oliveira Lima. Esse meu avô foi filho único e herdou várias propriedades em S. Antão, tanto do lado do pai como da mãe. Em Ribeira Grande, Longueira, Paul e "Lagedos". O meu avô nunca trabalhou e viveu dos rendimentos das terras que sucessivamente ia vendendo. Nada sobrou para os filhos e muito menos para os netos. Lembro-me bem do ar pesaroso com que regressou o meu pai, lamentando a venda da propriedade de "Lagedos", dizendo que era linda e tinha muita água. É caso para perguntar se ela não terá sido comprada pela família Jardim. Mas o meu pai veio dessa viagem a "Lagedos" com uma valente carga de manga, banana, papaia  e produtos da terra.


 


(Continua)



 

De Adriano Miranda Lima a 27.09.2011 às 15:37


(Conclusão do meu comentário)


 


Acerca da palavra “Lagedos”, confesso que não tive intenção de insinuar qualquer correcção. Seria o que faltava. Só que o normal seria “Lajedos”, palavra derivada da primitiva laje com o sufixo edos, como me explicaria o meu saudoso professor Ti Fefa (Alfredo Brito). Daí a dúvida que me surgiu.


Mas a verdade é que toponimicamente o que se escreve em Cabo Verde é “Lagedos”, como explicou a Sónia. Admito que antigamente a palavra primitiva possa ter sido “lage”, a qual terá assim evoluído, à semelhança de outras. Sucede, porém, que a evolução ortográfica normalmente não interfere com as designações toponímicas, que se consagram com o tempo, sendo muitos os casos que o podem comprovar, sobretudo em Portugal. Agradeço à Sónia o esclarecimento que deu sobre o caso.


Ah, também afirmo que, a caminhar para os 68 anos, não é agora que vou mudar de vida e cumprir o Acordo Ortográfico, com o qual, aliás, estou em total discordância. Continuarei a escrever à antiga e quem quiser que corrija.


Para concluir, agradeço à Sónia e ao seu livro a oportunidade que me deu de falar sobre a minha querida ilha de S. Antão e o passado. Onde poderei adquirir o seu livro?


 

De Sónia Jardim a 29.09.2011 às 00:00


Com muito prazer li a sua interessante explanação.


 


O passado fascina-me e é um privilégio poder partilhar vivências, pelo que a história da sua família também prendeu a minha atenção.


“Ela dançava como um passarinho a voar”... envolvente.


A história de Cabo Verde tem, efectivamente, o núcleo na história das suas famílias e isso constitui um património imensurável.


 


Relativamente aos terrenos da minha família, os mesmos já nos pertencem desde, pelo menos, tempo da minha tetravó, tendo sido o meu trisavô António Luís Delgado um grande proprietário em Santo Antão. Lagedos, Monte Trigo, Ribeira das Patas eram praticamente sua pertença. Tinha ainda terras na Ribeira Grande e Paúl.


 


Tenho conhecimento que o meu trisavô era amigo da família Lima e Melo.


 


No que concerne ao livro “Família Jardim – O Segredo”, o mesmo pode ser adquirido, em Lisboa, na Livraria Apolo 70 (Centro Comercial Apolo 70 junto ao Campo Pequeno), na Associação Caboverdiana (Rua Duque de Palmela), no Centro Cultural de Mindelo, em São Vicente, na Livraria da Biblioteca Nacional na Praia, entre outros.


 


Já agora, porventura, o Adriano não será da família de Augusto, João e Anita Miranda que tinham casa na Rua de Coco em Mindelo que eram amigos da minha família?

De Adriano Miranda Lima a 30.09.2011 às 00:35

Este post já vai bem lançado, o que demonstra que S. Antão e suas famílias são um aljorge inesgotável. Mas não posso deixar de agradecer à Sónia Jardim a atenção com que me respondeu e também de lhe responder ainda sobre duas questões.
Pelo lado Miranda, apelido que é do meu pai, sou bisneto de Alfredo António Miranda, aquele que foi um própero comerciante do Mindelo nas primeiras décadas do Século XX. Ele era pai de António Miranda (médico em S. Vicente), de Arcângela Miranda (minha avó), de João Baptista Miranda (pai do escritor Nuno Miranda e outros) e da Bia Miranda (mãe da Magui Miranda Alfama, Jorge Alfama e outros). Sobre os senhores  Augusto e o João Miranda, nunca soube ao certo se somos parentes ou não, mas o meu pai estava sempre a falar neles. O curioso é que o João Miranda foi o meu primeiro professor quando entrei para a escola primária. Mas foi por pouco tempo porque entretanto  ele se reformou. Pelo lado Lima, apelido do pai, sou neto de António de Oliveira Lima, de S. Antão, filho daquela que "dançava como um passarinho" e o tal que vendeu a propriedade nos Lagedos. Pelo lado da minha mãe, sou Soulé (ela de descendência paterna francesa), mas não me puseram o apelido dela. Pela idade da Sónia, e caso tenha estudado em S. Vicente, deve ter conhecido os meus primos Soulé, filhos do irmão dela. Esses primos são mais novos que eu e são 10 irmãos, uma autêntica escadinha etária.
Quanto à venda da propriedade em Lagedos, o que eu quis dizer é que   a sua família poderia ter sido a compradora, o que seria  naturalmente para acrescentar às terras que já possuiam. Seria curioso averiguar se foi assim ou não, até porque, como referiu, o seu trisavô era amigo dos Lima e Melo. A venda foi em 1953.
Agradeço a informação sobre onde posso adquirir o seu livro, o que farei logo que der um pulo a Lisboa, pois vivo em Tomar.
As minhas mantenhas.

De Sónia Jardim a 02.10.2011 às 23:15

Realmente, é magnífico podermos partilhar a história das nossas famílias. A história de uma família é, efectivamente, um património que não deve permanecer na estante, pois também da partilha advém o seu grande valor.

Não conheci os seus primos, até porque não estudei em São Vicente. A minha mãe veio para Lisboa com apenas nove anos, cidade de que sou natural, embora esteja sempre com o pensamento em Cabo Verde.

Mais uma vez, reitero que foi um prazer esta troca de experiências e vivências, pelo que aqui deixo um Até Breve.

Mantenhas,
SJ

De Wagner J Costa a 19.11.2012 às 01:33

Sonia tomei ciencia do seu livro somente agora 2012. Tenho tentado contato com vc mas nao tenho tido exito.
Sou da familia Jardim um ramo que veio para o Brasil por volta de 1889 com Carolina Elvira Pereira Jardim casada com Adriano Alves Pereira sei que é seu ramo familiar em Joao dos Santos Pereira Jardim. Tenho procurado seu livro, no Brasil não chegou e em Portugal pessoas não têm encontrado também.
Favor fazer contato.
Wagner Jardim da Costa

De Sónia Jardim a 20.11.2012 às 23:03

Boa Noite Wagner,
 
Muito grata pelo interesse demonstrado.
É sempre agradável encontrar laços familiares espalhados por esse mundo fora.
 
Em Portugal, o livro está esgotado.
 
Contudo, tenho alguns exemplares que poderei vender. Sugiro contacto via email crislelah@gmail.com (mailto:crislelah@gmail.com)
 
Um abraço,
 
Sónia Jardim
 

De Juares de Marcos Jardim a 23.08.2015 às 01:40

Sonia Jardim: Parabéns pela iniciativa e pela preciosa escrita. Agradeço a oportunidade de pesquisar as raízes do sobrenome Jardim. Belo, eufônico, traduz a sonoridade das flores, o gorjeio dos pássaros, o esvoaçar das borboletas... Nasci na cidade de Santo André, estado de São Paulo - Brasil, em 1947, filho de Ulysses Feijó Jardim e Maria (Sasso) de Marco. Avô paterno José da Câmara Jardim, nascido no Rio Grande Sul. Me encanta descobrir outros JARDINS, já que muitos deles cruzaram mares e floresceram no Brasil e em outros países da América Latina. Em breve vou postar um link para você acessar um link, contendo a genealogia do meu ramo, escrito por minha irmã Laura Josepha Pinto Jardim, caso tenha a curiosidade. Receba meu afetuoso braço. NAMASTÊ !!!!!

De Sónia Jardim a 19.01.2016 às 12:07

Juares, antes de mais agradeço as suas amáveis palavras. Para mim, é um enorme prazer poder partilhar os conhecimentos que vou adquirindo com as minhas pesquisas. A partilha permite ao escritor poder alcançar a eternidade e a satisfação enquanto estamos "deste lado". Caso pretenda poderá consultar, no FB, as páginas "Família Jardim - O Segredo" e "As Aventuras de Cety na Ilha de Santo Antão. Um abraço.
Sónia Jardim  

De Rodolfo Jardim da Costa a 16.06.2018 às 13:09

BOM DIA TENHO TENTADO DE TODAS AS FORMAS TER CONTADO COM FAMILIARES DA MINHA FAMILIA JARDIM. SOU NETO DE MANOEL SALES JARDIM.

De Pecas lopes a 29.08.2020 às 18:28

Um belo artigo. Assim como muitos, também sou natural da “Magestosa Santo Antão” como o porta José Lopes chamava a Ilha. Tenho uma tia no Lagedos e passei algumas férias por lá. Inclusivé, lembrro-me da Familia do Dr. Baltazar Lopes da Silva e Dona Teresa com o Waldemar e o Jimmy por lá e de ouvir Dona Teresa cantando mornas e tocando seu violão. Da familia Jardim.... bem, as propriedades e qualquer pedrinha que pertencesse aos jardins era intocável ali nos Lagedos. Inclusivé, as mangueiras podiam estar carregadas, nos dias de ventania por debaixo delas a gente via mangas e mangas ali maduras e apodrecendo, mas ninguém ousava tocar numa que fosse. Aliás, como crianças éramos avisadas vezes sem conta. Creio que até hoje TUDO o que pertence à familia Jardim carrega um peso assim de coisa proibida. Perguntem as pessoas ali dos Lagedos. Podem dizer que por aqueles lados há muita superstição como em toda Ilha de Santo Antão. Mas também se perguntar a qualquer pessoa do Concelho do Porto Novo, darão conta que realmente havia coisas muito estranhas com a senhora Anita Jardim. Bem, hoje que descanse em paz

De Anónimo a 22.04.2021 às 16:21

Era minha tia avo o meu avo était filho mais venho de jose périra jardim 

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