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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 16 Nov 13
Rua de Lisboa, Café Lisboa
- Para Manuel da Cruz Gonçalves, Tio Lalela
Neste meu regresso a Mindelo, a impressão que me fica é que a cidade está parada, que as pessoas sofrem de um sentimento de orfandade, de abandono e de perda.
A verdade é que S. Vicente não consegue reter os seus quadros, pois, ao longo dos anos, vem sofrendo de uma verdadeira hemorragia, saindo muitos para ir trabalhar na Praia nos Ministérios, nos Bancos, nas Alfândegas, nas Empresas, quando não vão para o estrangeiro, simplesmente porque “SonCent ca tem trabói”, explica-me um velho conhecido.
Existem, porém, pessoas que resistem e que teimam em ficar, diz-me outro – mas, até quando? Outras, entretanto a viver fora durante muitos anos – e enumera-me alguns nomes – mal conseguem a aposentação, regressam a S. Vicente para desfrutar da morabéza, da beléza e da moléza desta ilha.
Durante o dia, cruzo-me com essas pessoas na Rua de Lisboa, no Café Portugal e no Café Lisboa, na Pont d’Água, ou simplesmente as encontro na sua caminhada ao fim do dia, na marginal.
No sábado, estava eu no Café Lisboa em conversa amena, a “pôr boné”, que é como se diz por estas bandas, ou seja, a saber as novidades, quando chega o Albino da casa do Sr. Trinta, amigo de diazá e mais velho que eu, que me cumprimenta e procura saber de mim. Respondo às suas perguntas e explico-lhe que já não estou na Praia, que voltei e que estou a viver de novo na Chã de Cemitério, agora um pouco mais para lá e mais próximo do dezoito-dois-oito, isto é, do cemitério. Rimo-nos com a brincadeira e ele sai-se com esta:
- Já bô reformá?! // Já te reformaste?
Dou uma gargalhada e explico-lhe que estou no activo e que fui colocado em Mindelo.
Enquanto via o Albino seguir o seu caminho fiquei a pensar: não é esta a Mindelo que queremos para nós - uma Mindelo onde as pessoas só vêm nas férias e quando se reformam! A Mindelo que queremos é aquela onde as pessoas possam fazer a sua vida, com oportunidades e realização profissional. Não uma Mindelo que só viva de momentos pontuais de pujança ou somente das lembranças dos bons tempos de diazá.
A Mindelo que eu quero é aquela Mindelo doce e singela como a Menina Xanda (minha mãe), que vendia alegremente o seu cûscûs quente e que fazia os rapazinhos arregalarem os olhos quando passava, só para melhor apreciarem a sua graça.
A Mindelo que eu quero é como a minha Mãi Liza, altiva e elegante; bonita, asseada e aprumada; enérgica e séria quando necessário; ciosa das suas obrigações e honrada com o trabalho que faz, por mais simples que ele seja.
É pedir muito?!
Rua de Lisboa, Café Portugal (esq.)
Mindelo, 27.Outubro.2012
Se a Rua de Praia é o coração do Mindelo, como costumo dizer, a Rua de Lisboa é o seu cérebro. Acontece com ela o estranho fenómeno que é nunca ninguém lhe chamar os topónimos que sucessivamente lhe vão sendo impostos e perdurar o de Rua de Lisboa. O mesmo aconteceu com a lisboeta Praça do Comércio, para sempre Terreiro do Paço, e com outra da capital portuguesa, Praça Sá Carneiro, para sempre do Areeiro.
Que eu saiba, a Rua de Lisboa já se chamou de “D. Carlos” e “Libertadores de África”, pelo menos. Mas ninguém quer saber do Rei assassinado nem dos tais libertadores. Lisboa é que é e o resto são cantigas. Diz o Morgadinho que agora é de “Roberto Duarte Silva”. Muito embora pese o prestígio e importância do antigo e esforçado deputado por Cabo Verde em Lisboa, também não me parece que a coisa pegue. E nós, mindelenses, que andamos sempre de costas para o pessoal da Praia, lembremo-nos de que lá existe uma Avenida Cidade de Lisboa e no platô ainda lá estão muitos nomes de diazá como Andrade Corvo, Serpa Pinto, Cândido dos Reis e Machado dos Santos, convivendo e muito bem com a Avenida Amílcar Cabral. História é história, tradição é tradição… até porque por muitos locais de Portugal há ruas alusivas a Cabo Verde e a alguns dos seus filhos. E porque os filhos de Cabo Verde e Portugal estão condenados a serem amigos e a honrarem a história comum.
Braça lisboeto-mindelense,
Djack
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...