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Esquina do tempo por Brito-Semedo © 2010 - 2015 ♦ Design de Teresa Alves
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Brito-Semedo, 30 Dez 12
- Para as manas Liliza e Raquel
Conversando com uma menina do meu tempo sobre o Bói d' Conjunto de hoje, dia 29 de Dezembro, o 1.º a que faço questão de ir, apesar de não ser de dançar nem ter par, baile esse que é realizado no Alta Maré, numa tenda montada à frente da Gare Marítima, com um naipe de músicos de luxo: Tito Paris, Dûdû Araújo (estes, dois meninos da Chã de Cemitério como eu), Cabo Verde Show e Leonel Almeida. Na embalagem da conversa evocamos os bóis d’ conjunto de diazá, do tempo das nossas mães.
Contei da Xanda, de como ela se arranjava e se punha bonita para ir para esses bailes de viola e bic, de rabeca e de clarinete e trompete no Zé de Canda e Jon Bintim e de como os preparativos começavam muitas horas antes lá em casa.
A Xanda começava por pôr o cabelo no rolo, pintava as unhas das mãos, caprichava no traço das sobrancelhas com lápis preto, carregava no pó-de-arroz, borrifava-se com perfume da Drogaria Djandjan, fazia um sinalzinho na cara com a ponta do lápis, que molhava na boca, pintava o bico de vermelho, punha um vestido de cor clara que lhe assentasse bem, calçava seus sapatos de festa, umas sandálias de tiras com salto, e lá ia ela vaporosa e feliz! Já taludinho, eu é que não gostava nada de a ver sair assim! Morria de ciúmes dela. Nesses dias dormia sempre tarde, mas ficava atento e à espera que ela voltasse para casa, o que normalmente acontecia lá pela manhãzinha, trazendo para mim e para a minha irmã uma barrinha de chocolate, uns drops, um pacotinho de bolacha ou uma latinha de Sumo Compal. Sabe de mund! Nessa hora eu sentia-me compensado!
Nostálgica, a minha amiga acompanha-me nessas recordações: - A minha mãe fazia seus próprios vestidos de baile, de bolinhas, de saia godê, cinturinha bem marcada e lá ia ela com as amigas e a tia-guarda-costas. O meu pai, nessa época apenas namorado, caprichava no lustro do sapato, na gravata borboleta e na brilhantina de boa qualidade.
Foi assim no SonCent de diazá, ano após ano, todos os sábados, até 1982, com os conjuntos King's, Grito de Mindelo e Granada. Em 2006, mais de vinte anos depois, Tito Paris "desencova" os bóis d' conjunto e passa a realizar duas edições por ano, uma no Mindelo e outra na Praia.
- Manuel Brito-Semedo
Mindelo, 29.Dez.2012
Rapazes, não tenho vergonha de confessar a inveja que sinto de vocês por não ter tido usufruto desses nossos bailes antigos, que normalmente me chegavam pelos sons de clarinete transportados pelo vento. . Terá sido por isso que num poema que escrevi há anos (Evocação da Praça Estrela) meti estes versos:
A espaços sulcam os ares gemidos de rabeca
Que o vento sacode na sua perdulária diversão
Como que despeitado pelo virtuosismo alheio
Janelas iluminadas engalanam um baile do Amarante
Para onde caminham raparigas de língua de prata
E saia plissada agitando-se ao sabor do vento
Nem mesmo quando comecei a ter a rédea mais solta me deu para entrar nesses bailinhos, a não ser em duas situações muito pontuais, e já com 19 ou 20 anos. Uma foi no terraço da casa do Manuel Chantre (mais conhecido por Lela Veneno), que deu um bailinho, reservado a amigos e pessoas mais chegadas, para comemorar o sucesso no seu exame do 2º ano do liceu. Ele adulto, homem casado e com filhos, eu um rapazola, que, não obstante a pouca idade, fora o explicador e preparador para esse exame. A outra vez creio que foi o baile de finalistas do 7º ano. Ah, tomei parte também num baile de Carnaval no Eden Park, o meu último Carnaval em S. Vicente. Mas esses eram do género tudo ao molho.
Mas aqueles bailinhos populares é que tinham o seu sabor poético, e são eles que, por isso, puxam hoje para o meu imaginário, mesmo que eu não tenha passado de um mero espectador.
Também me ri um bocado com o “paradoxo da paternidade” que fez soltar a gargalhada ao Brito Semedo.
Esquecer!? Ninguém esquece…
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Ele nasceu em 1824.
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