Recomendações de consulta
Assuntos culturais
Bibliotecas Virtuais
Blogues Parceiros
Documentários
Instituições Ensino Superior
Para mais consulta
Esquina do tempo por Brito-Semedo © 2010 - 2015 ♦ Design de Teresa Alves
Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 24 Mar 13
1. ”Escola de Mulheres”, uma comédia de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido como Molière (Paris, 15.Jan.1622 — 17.Fev.1673), encenada em 1662 – considerada uma das suas obras-primas – foi adaptada aos tempos modernos, tendo como pano de fundo a cidade do Mindelo, com encenação, cenografia e direcção artística de João Branco e interpretação do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português. É, à partida, um luxo e uma peça a não perder, mais a mais em ambiente de festa de aniversário!
Com o auditório do Centro Cultural do Mindelo completamente lotado, o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português comemorou os seus 20 anos com esta sua 48.ª produção.
Sentado na segunda fila, pensava em como nunca tinha lido nenhuma peça de Molière, apenas assistira a uma em S. Paulo, numa sala cheia de adolescentes do ensino básico e secundário, nos idos de 1990. Contudo, no meu “TPC” (trabalho para casa), hoje em dia muito facilitado pela internet, procurei informar-me minimamente sobre o autor e a comédia original.
2. A peça é, antes do mais, uma homenagem à cidade do Mindelo do primeiro quartel do século XX e ao seu carácter cosmopolita, ainda que sendo uma cidade pequena.
Esta adaptação tem uma forte marca de identidade local, procurada e aperfeiçoada até à exaustão. Identificam-se os hábitos sociais como o golf, com o seu ritual, vestes e aparato próprio, onde não falta o gin and tonic no final da partida; a fala local, num crioulo castiço sanvicentino, com a presença facilmente identificada do italiano, do inglês, do francês e do português, claro; a música local, como as mornas e as coladeiras, exemplarmente executadas por Khali Angel, o último pianista de Cesária Évora.
Fotos de e João Branco
3. Na comédia, há uma personagem feminina, Inês, que é criada isolada do mundo, para dele não absorver mazelas e malícias. A escola da vida pôs essa mulher à prova, testou a sua natureza, o seu carácter, a sua ingenuidade e atribuiu-lhe uma função naquele mundo do século XVII.
A peça pode ser vista como uma metáfora em relação à forma como as mulheres eram criadas: sob o jugo do machismo, enclausuradas, subjugadas pela violência, cercadas de superstições acerca de mulheres-bruxas que tentariam os “pobres” homens e os fariam prevaricar.
Existe um forte simbolismo no facto de o Grupo de Teatro do Centro Cultural Português apresentar a peça no mês de Março, conjugando os seus apostos Teatro e Mulher. Isso leva-nos a, mais do que apreciar o bom nível das interpretações dos actores – Edson Gomes, Elba Lima, Elísio Leite, Jair Estêvão, Janaína Alves e Renato Lopes – avaliar a qualidade da iluminação de Edson Gomes e o trabalho de maquilhagem e caracterização de Janaina Alves, que lhe dão um estilo de cinema, imprimindo o efeito de comédia a preto e branco; a música ao vivo de Khali, integrada no enredo e não apenas como um acessório secundário; ou mesmo o burlesco dos tiques, das falas e das pronúncias das personagens, que deliciaram a assistência e arrancaram fortes gargalhadas e palmas entusiásticas, simbolismo este que nos deve levar a reflectir.
Qual a condição da Mulher hoje? Como é que ela se posiciona na sociedade contemporânea? Terá ela conquistado o seu espaço ou é uma marioneta num mundo masculinizado que usa novas estratégias de dominação? Ter-se-á ela libertado dos grilhões de preconceitos ou é ainda vítima do culto à beleza, da ditadura da boa forma, das dietas e do consumo?
Da mulher vitimizada à supermulher, ela terá hoje melhor auto-estima ou desdobra-se em jornadas múltiplas entre casa-família-trabalho-carreira profissional, esforçando-se num malabarismo que comprove que ela é mais do que a costela do homem que lhe deu origem? Provavelmente, um pouco disto tudo.
Que “L’Ecole des Femmes” escreveria Molière hoje? Certamente que não muito diferente da “Escola de Mulheres” de João Branco!
É caso para dizer, Molière está em Mindelo "Cangôd"[1] em João Branco!
Manuel Brito-Semedo
Mindelo, 23 de Março de 2013
Ler mais - "Molière também fala crioulo", in Expresso das Ilhas
[1] No sentido do espiritismo, muito cultivado em S. Vicente, a expressão “cangôd” quer significar “estar possuído”.
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Muitas vezes e cada vez mais, meditando nos Evange...
O senhor pastor Sanca Gomes viveu uma vida sempre...
Passando aqui pela «Esquina do Tempo» e lendo esta...
Viva o teatro Caboverdeano e Vivam as todas as suas Gentes.
Obrigado ao nosso João Branco
e Obrigado Prof.Brito Semedo.
Cada um com a sua função