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Cabo Verde, Perspectiva e Realidade

Brito-Semedo, 7 Ago 13

 

Cabo Verde, Perspectiva e Realidade é o retrato de um Cabo Verde mais produtivo e industrializado - na visão de João de Rosário - fielmente decalcado nas linhas da jornalista Françoise Ascher, que nos remete para uma certa cumplicidade e contributo de cidadania desta francesa residente em Cabo Verde, para a construção de um País economicamente mais viável; de um Cabo Verde futuramente mais justo para todos. Citando o Dr. Aristides Lima, no prefácio I, “O trabalho está escrito numa linguagem acessível e direta e pode ser lido com o mesmo prazer com que outrora se bebia água fresca do pote, após uma boa caminhada.”
 
É uma honra poder partilhar a apresentação deste livro do Eng.º João do Rosário. Um homem de olhar vivo e irrequieto; Sempre interrogativo e à procura de soluções mas em simultâneo, sereno e tranquilo; bom gestor das suas próprias interrogações e inquietudes; que ele próprio vai sossegando com a análise e construção estudadas de respostas; nas quais acaba por fielmente acreditar e humildemente defender na determinada decisão de dar o seu maior contributo para um País melhor; para um Cabo Verde em que todos possamos um dia estar menos desnivelados na partilha de melhores condições de vida, que deixem de segregar a maioria em favor de apenas alguns. Não tivesse sido o autor ensinado pelos pais a dividir… Quando menino, para além do irmão biológico, os pais de João do Rosário ainda lhe deram mais 24 outros meninos para partilhar a infância.
 
Com Cabo Verde, Perspectiva e Realidade João do Rosário partilha efetivamente, connosco, uma outra realidade para Cabo Verde. Uma realidade perante a qual os poderes se têm feito cegos e surdos porque não beneficia os seus interesses.

 
Do que trata este livro é da luta contra a pobreza, como há dias respondia o próprio autor a uma cidadã; é da necessidade de os poderes instituídos reconhecerem que é preciso arrepiar caminho e admitir que os modelos económicos estatizados e liberais falharam e é preciso encontrar uma terceira via que permita a Cabo Verde a auto-sustentabilidade que liberte o País da dependência externa. De forma rápida e mais justa com a tónica na industrialização até aqui preterida por políticas que, sim, têm privilegiado a educação e o poder social no País, mas têm desprezado a produção e indústria nacionais cujos desenvolvimentos são condicionantes da democracia que, no nosso País, não só parece continuar em estado de embrião, como – sobretudo em épocas eleitorais - mostra, por vezes com laivos de descaramento, as deficiências graves e chocantes de que padece;

É de fazer compreender que enquanto estivermos “fechados” com os partidos e “colados” aos seus interesses de permanecer ou subir ao poder, continuaremos a compactuar com eles; a ser cúmplices dos seus líderes e protagonistas, interessados em que o País continue a arrastar os pés, na pesada dependência do Estado. Porque quanto mais subordinado, mais manipulável o povo é; mais barata fica a sua consciência; e menos caro pode custar o seu voto.

Naturalmente crítico contra a bipolarização e os entraves impostos pelo sistema aos pequenos partidos, o histórico das eleições evocado em Cabo Verde, Perspetivas e Realidade, faz-nos ater, no que o poder é capaz quando se sente ameaçado; na desvalorização com que “espezinha” a democracia quando as areias da governação se tornam movediças.

Inconformado mas não resignado; visionário de um Cabo Verde economicamente mais digno e produtivo; que não delapide e poupe nas suas divisas, é preciso – na minha leitura às ideais do autor - que nos “fechemos” com o País; que o façamos enriquecer; com a força do trabalho nacional; da mão-de-obra disponível; e da produção dentro do território.

Os casos do Brasil e do Japão, com fortes medidas restritivas às importações e uma forte proteção dos seus produtos nacionais, são exemplos que João do Rosário vai buscar para defender a sua dama: A Industrialização de Cabo Verde. E sustentar que o País não pode continuar inteira e eternamente submisso a países terceiros para satisfazer as suas necessidades de consumo.

 

O autor preconiza assim, um urgente volte face em Cabo Verde, com a promoção de uma classe privada forte; numa nova dinâmica para o desenvolvimento da economia nacional e a criação de postos de trabalho, focados nos já perto de 17% de desempregados a nível nacional. Só assim poderíamos legitimar a liberdade democrática de que nos dizemos titulares, mas que - então sim - estaríamos a construir, libertando o povo das amarras do Estado.

Esta obra é ainda uma chamada de atenção para o mal-estar que resulta do puzzle político do sistema atual, castrador das possibilidades que permitam o crescimento e garantam a viabilização dos pequenos partidos, como elementos preponderantes para o reforço e a transparência do sistema democrático; para as divergências entre os dois maiores partidos que há mais de 20 anos, se mantêm de costas voltadas na luta pelo poder, sem dar sinais de diálogo em prol do país e do seu povo, apesar das conquistas da liberdade e da democracia que, ao contrário do que era suposto, parecem não jogar a favor de todos os cabo-verdianos, mas sim a favor daqueles que, eleitos para defender o povo – mais não fazem do que zelar pelos próprios interesses político partidários.

O livro é um olhar atento que apela à reflexão sobre os últimos acontecimentos políticos e atos eleitorais no país, marcados pela corrupção eleitoral e desprezo pelas ideias e propostas que quem está honestamente na política e a quer utilizar como instrumento de trabalho para criar evolução e crescimento nacionais. É ainda um alerta para a fragilidade do Nosso Pequeno Território; exposto às consequências dos acontecimentos que sacodem e transformam o Mundo, desde a queda do Muro de Berlim; à tragédia das atuais crises económicas europeias que flagelam os povos e parecem não ter fim à vista.

Em defesa da sua ilha Natal, João do Rosário não deixa no entanto de fora, as nove ilhas habitadas, das suas ambições para o País. Mas quando fala de regionalização, como solução; e a defende como uma “Causa Nacional”, é para S. Vicente que aponta os casos de maior discriminação. Não se poupa a críticas e à indignação contra os mais altos níveis de desemprego que fazem vergar a ilha a uma pesada taxa que mais do que duplicou nos últimos 20 anos. E quando enumera as injustiças que penalizam S. Vicente, o autor não se coíbe a condenar, com veemência as políticas que a têm conduzido. E mais uma vez volta a defender, para além de um segundo município, a Industrialização, como forma de criar e atrair riqueza para a ilha.

 

Curto mas preciso nas questões prementes que aborda, neste “Manual para a melhoria de uma Nação” – diria eu - atrever-me-ia a propor esta obra como instrumento de trabalho para académicos e políticos; para estudantes e estudiosos.

As propostas de valor ecológico e sustentável, em harmonia com o meio ambiente para solucionarem problemas em sectores como habitação e energia; poupando recursos e minimizando desperdícios; as dinamizações e modernização no sector da construção civil, com ideias concretas plasmadas na obra; a valorização ilha a ilha e a garantia de fluidez dos produtos entre si, com a inerente facilitação de trocas comerceiam; são propostas que João do Rosário tem oferecido “de bandeja” no âmbito da ideia de Regionalização do País. Um debate que cada vez mais toma contornos de ambição nacional mas com sede - se me permitem- no Mindelo.

Cabo Verde, Perspectiva e Realidade é um dossier de propostas e soluções trazidas por um cabo-verdiano bem de vida, que regressa a Cabo Verde por verdadeiro Amor à Terra. É a vez devolvida aos cidadãos para repensar; renovar; recomeçar e reconstruir novos paradigmas para Cabo Verde. Se não for suficiente para que os poderes públicos e políticos reconheçam e convidem João do Rosário para colaborar com as suas ideias e propostas para a construção de um futuro melhor; eu não estranharia que, sem que ninguém veja, lhe venham a piscar o olho num discreto convite para a discussão à volta da mesma mesa. Que a sua liderança à frente de um partido político sem assento parlamentar não seja motivo inibidor e que o País não seja por isso penalizado.

 

- Helena Leite, Jornalista

 

Mindelo, 6 de Agosto de 2013

 

Cabo Verde, Perspectiva e Realidade

João do Rosário

L'Harmattan, 2013

Paris

 

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