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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 7 Abr 10
A saudade e a morabeza (a vogal da sílaba tónica deve ser lida de forma aberta) podem ser consideradas como o verso e o reverso do mesmo sentimento que melhor caracteriza e identifica o homem cabo-verdiano, ser expansivo e de trato fácil.
No Princípio era a Saudade...
Cabo Verde nasceu sob o signo da saudade. Em 1462, dois anos depois da sua descoberta, começou a tarefa do povoamento das ilhas, com europeus e escravos trazidos da costa de África, como forma de fazer delas um ponto de apoio à navegação e de assegurar a continuidade das Descobertas mais para o Sul e do comércio da costa.
Tanto o Europeu como o Africano, longe da sua terra-natal e dos seus, desenvolveu um sentimento de perda e de saudade. Posteriormente, fundindo na mestiçagem essas saudades de continentes diferentes, surgiram as cantigas crioulas, que deram origem à morna, de tom dolente e nostálgico.
De facto, cedo o homem cabo-verdiano habituou-se a ver chegar e partir pessoas de outras paragens, até ele próprio começar a sair em busca de melhores condições de vida. Por isso, encontra-se hoje nos quatro cantos do mundo, o que faz de Cabo Verde um país com uma população no exterior equivalente à residente.
Assim, todo o Cabo-verdiano tem um filho, um parente, um compadre ou um amigo a viver em outra ilha, ou mesmo emigrado no estrangeiro, que visita a terra com regularidade e com quem mantém relações próximas.
Praça Nova (vista aérea), Mindelo.
... e Depois a Morabeza
O facto de o Cabo-verdiano aspirar a viajar, conhecer novas terras e povos, ter pessoas próximas a viver em outras terras, como emigrante ou mesmo como estudante, pode ter desenvolvido em si uma disponibilidade natural para receber de forma amável qualquer visitante, desde o seu vizinho a gente de outras localidades, outras ilhas e outras nacionalidades. É esta atitude amigável, simpática e gentil de receber e de querer agradar e compartilhar que é, afinal, uma maneira de expressar a forma como gostaria de ser recebido, que é a morabeza.
Este sentimento, que é mais visível e praticado nos meios rurais, manifesta-se, contudo, de forma particular em cada uma das ilhas. Por exemplo, em Santo Antão havia, até há bem pouco tempo, o hábito de convidar os viajantes que faziam as suas jornadas a pé a entrar nas casas ao longo do caminho e secar o calor, que é, como quem diz, beber um cálice de aguardente (o grogue) e descansar um pouco. Nas outras ilhas agrícolas, nomeadamente em Santiago, nunca se vai fazer uma visita sem levar um agasalho, ou seja, uma prenda para os donos da casa, que pode ser um lenço de amarrar (lenço de cabeça), uma garrafa de grogue, algum rapé, ou um palmo de tabaco enrolado. O visitante, para além de ser bem recebido, normalmente regressa com um cabrito, um frango, ovos, leite coalhado ou queijo fresco, ou um saco contendo banana, papaia, mandioca, batata-doce, enfim, os produtos hortícolas que estiverem disponíveis no momento.
Ser morabi (a expressão é da ilha Brava), afável e gentil, é a expressão do sentimento da morabeza, que é, afinal, a forma de o Cabo-verdiano estar no mundo.
- Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Olá Brito Semedo. Também apresento m/condolências ...
Bom dia,Apraz-me realçar que li, atentamente, o te...
Boa-noite. Que eu saiba, as crónicas do Nhô Djunga...