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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 26 Dez 24
Carvalho, by Hamilton Silva
A emigração para o Sul é uma parte fundamental da história de Cabo Verde, marcada pelas imensas dificuldades que o povo cabo-verdiano enfrentou, bem como pela sua notável resiliência. As grandes fomes de 1941-1943 e 1947-1948, que causaram milhares de mortes, obrigaram muitos cabo-verdianos a buscar melhores condições de vida fora do arquipélago. Durante a fome de 1947-1948, por exemplo, a ilha de Santiago perdeu 65% da sua população, revelando a gravidade da crise. Este êxodo não foi apenas uma questão de sobrevivência, mas também uma resposta à seca e ao abandono do Estado, que tornavam a vida insuportável para grande parte da população.
Os quadros administrativos cabo-verdianos, integrados no sistema colonial português, desempenharam um papel central nesse contexto. Frequentemente transferidos para territórios como Angola, Moçambique e Guiné, eram essenciais na gestão das colónias, assumindo funções administrativas cruciais e implementando políticas definidas pela metrópole. Apesar das condições adversas e do ambiente frequentemente hostil, destacaram-se pela competência e resiliência, contribuindo para a organização e funcionamento das estruturas coloniais. Ainda que inseridos num sistema que reforçava desigualdades, os cabo-verdianos deixaram um legado marcante de profissionalismo e influência, navegando com habilidade num ambiente político e social complexo.
A migração para o Sul tornou-se uma necessidade imperiosa, uma rota de fuga das adversidades que assolavam Cabo Verde. Ao mesmo tempo, representou um movimento de profunda transformação na vida e identidade do povo, que se viu forçado a reconfigurar a sua forma de viver, trabalhando nas plantações e noutros sectores fora do arquipélago. Essa diáspora, apesar dos desafios enfrentados, foi também uma oportunidade de renovação cultural e de adaptação, com os emigrantes levando consigo as tradições e, ao mesmo tempo, absorvendo novas influências que enriqueceram a sua vivência e a história de Cabo Verde.
Entre os destinos mais procurados, destacam-se São Tomé e Príncipe, Dakar e Angola, locais que, ao longo do tempo, se consolidaram como pontos-chave para os emigrantes cabo-verdianos, que buscavam trabalho e uma vida melhor:
Durante as grandes levas de emigração em 1903 e 1904, mais de 4.700 cabo-verdianos foram enviados para a colónia, mas muitos não sobreviveram devido a doenças, miséria e fome, com grande parte morrendo durante a viagem ou logo após a chegada. A experiência da emigração para São Tomé foi amplamente rejeitada desde o início pelos cabo-verdianos, e intelectuais como Luiz Loff de Vasconcellos, Eugénio da Paula Tavares, José Lopes da Silva e Pedro Monteiro Cardoso criticaram veementemente o processo, defendendo campanhas públicas contra essa migração. Apesar dos enormes desafios e da exploração vivida pelos emigrantes, a migração para São Tomé também gerou uma forte troca cultural, com os cabo-verdianos adaptando-se às duras condições de trabalho nas plantações, mas ao mesmo tempo preservando e transmitindo suas tradições.
Navios e Cultura: Símbolos da Emigração
Para Angola e São Tomé e Príncipe, utilizavam-se os barcos da Companhia Colonial de Navegação, uma empresa portuguesa fundada em 1922 e extinta em 1974. Já os navios de armadores cabo-verdianos, como Ildut, Novas de Alegria, Maria Sony, Senhor das Areias e Bita, eram responsáveis por transportar emigrantes para Dakar e tornaram-se símbolos de um movimento que transcendeu as viagens físicas, representando sonhos, esperanças e temores. Para muitos cabo-verdianos, essas embarcações foram cenários de despedidas marcantes e de promessas de um futuro melhor.
O Novas de Alegria, em particular, inspirou composições como “Pinôte na Vapor”, de Manuel d’Novas, e “Novas d’Alegria”, de Amândio Cabral. Essas músicas capturam a nostalgia da partida e a saudade da terra natal, traduzindo aspectos essenciais da experiência migratória cabo-verdiana. Mais do que relatos de sofrimento, essas canções expressam a força de vontade e a esperança que caracterizaram esse período.
Contribuições e Legado da Diáspora
A emigração cabo-verdiana, particularmente para São Tomé e outros destinos do Sul, foi inicialmente uma resposta necessária às crises que assolavam o arquipélago, mas tornou-se também um processo de transformação social e cultural de largo alcance. Apesar das adversidades enfrentadas, os emigrantes desempenharam papéis fundamentais nas comunidades de acolhimento, deixando marcas indeléveis que perduram até hoje.
A capacidade de adaptação, a força cultural e a perseverança dos cabo-verdianos são fontes de orgulho e inspiração para as novas gerações. O impacto da emigração manifesta-se na riqueza cultural do país, no fortalecimento das suas comunidades e na criação de laços que atravessam fronteiras geográficas e temporais. Para além de garantir a sobrevivência, este movimento contribuiu para o enriquecimento cultural das sociedades de acolhimento, preservando e adaptando as tradições culturais de Cabo Verde.
Marcada pela resistência, pela esperança e pelas trocas culturais, a diáspora cabo-verdiana continua a ser um motor de transformação que molda o país até hoje. O seu legado, caracterizado pela luta pela dignidade e pela preservação da identidade, é um testemunho do espírito resiliente do povo cabo-verdiano e uma inspiração para o futuro.
DizCorrendo sobre a emigração cabo-verdiana que, motivada pelas crises e fomes, levou muitos a destinos como São Tomé, Dakar e Angola, onde enfrentaram dificuldades, mas também preservaram sua cultura e contribuíram para o desenvolvimento local. Seu legado permanece na cultura e economia de Cabo Verde.
– Manuel Brito-Semedo
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