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Curador do Mindelo Indisponível

Brito-Semedo, 14 Mai 14

 

Curador.jpeg

 Brito-Semedo, Foto Jornal "A Semana"

 

Em carta dirigida ao Ministro da Cultura com data de 30 de Abril, Brito-Semedo declina o convite formulado para ser Curador da Cidade do Mindelo e explica as suas razões: "as dificuldades do executivo em corresponder às necessidades de tal função e óbvia falta de preparação para a abertura e funcionamento da Curadoria".

 

A nomeação que o Senhor Ministro da Cultura me propôs pelo telefone, em 27 de Março p. p., coloca, como tive ocasião de então lhe referir, questões de ordem profissional e pessoal/familiar, entre elas, as condições remuneratórias futuras e as de desvinculação do meu cargo actual na Uni-CV, com os compromissos assumidos para este ano lectivo. Expressou-me então o Senhor Ministro a intenção de brevemente as discutir comigo.

 

Sem que tal se verificasse, recebi o convite que me endereçou para “compor a Curadoria”, sem referência ao cargo que inicialmente havia referido. Continuei, por isso, aguardando pela conversa prometida.

 

Passados 18 dias sobre a data do convite formulado primeiramente e depois do Senhor Ministro ter discutido o assunto com os Deputados eleitos pelo círculo de São Vicente e solicitado à Reitora da Uni-CV a minha disponibilização para a função de responsável pela Curadoria, optou o Senhor Ministro por dar posse imediata aos 9 membros que integram a Curadoria da Cidade do Mindelo, eu incluído, em acto público de 14 de Abril, aproveitando a sessão solene do Dia da Cidade, tendo-me inclusivamente solicitado que proferisse um discurso como seu membro e em nome dos restantes, o que aconteceu. Este acto foi amplamente divulgado pela Comunicação Social, tendo induzido esta a presumir que seria eu o responsável pela Curadoria, o que foi ampla e claramente noticiado, inclusivamente na página do Facebook desse Ministério.

 

Curador 2.jpegMinistro da Cultura ladeado pelos membros que integram a Curadoria da Cidade do Mindelo

Legenda
(esquerda para direita): Luísa Morazzo (Animadora do Carnaval), Brito-Semedo (Antropólogo), Marina Ramos (Historiadora), Humberto Lélis (Vereador da Câmara Municipal), Josina Freitas Fortes (Centro Cultural do Mindelo), Mário Lúcio (Ministro da Cultura), Margarida Brito Martins (Professora de Música), Manuel Lima Fortes (Centro Nacional de Artesanato), Isabel Silva (Biblioteca Nacional) e Humberto Lima (Instituto da Investigação e do Património Culturais)
 

 

Assim, não houve, em tempo útil, lugar à discussão das questões fundamentais implicadas na minha nomeação, nomeadamente, as condições remuneratórias futuras e as de desvinculação do meu cargo actual, prementes quer para a Uni-CV quer para a activação da Curadoria quer, ainda, para a viabilização da minha mudança de residência familiar para o Mindelo.

 

Face a esta situação e à necessidade de responder às solicitações da Uni-CV quanto aos compromissos ali assumidos, com implicações sobre umas dezenas de alunos, alguns profissionais e a concretização de acções académicas importantes, solicitei ao Senhor Ministro um encontro urgente, que teve lugar em 22 do corrente.

 

Nele se constatou que o vencimento estipulado na lei para este cargo é inferior ao que aufiro como docente doutorado na Uni-CV, sobre o que acresce o facto de a aceitação do cargo implicar uma mudança da residência familiar da Praia para o Mindelo, com os custos inerentes à mudança e à necessidade de custear um arrendamento regular.

 

Sob o ponto de vista formal, constatei que não estão ainda cumpridas as formalidades processuais para a nomeação de tal Curador, por “falta de compatibilização da agenda do Conselho de Ministros”, como referiu, o que poderá levar algum tempo.

 

Neste encontro e face aos vários constrangimentos detectados, o Senhor Ministro comprometeu-se a analisar melhor o processo, com vista a apresentar-me, dois dias depois, propostas alternativas para a sua solução, pelo menos das questões de suporte remuneratório. Tais propostas só me chegaram ontem através do Presidente do IIPC, oralmente e de forma incompleta, sem que estejam claros todos os aspectos da contratação. Concordar com tal proposta seria fazer perigar o meu futuro profissional e a minha subsistência familiar.

 

O arrastamento incompreensível deste processo, sem que sejam oferecidas condições de trabalho e de remuneração compatíveis com uma situação profissional cabal, e a falta de um documento formal sobre a minha contratação para a referida função, nem individual nem institucional, têm provocado desgaste psicológico e feito perigar a minha situação profissional junto da Uni-CV.

 

Face a todas as dificuldades do executivo em corresponder às necessidades de tal função e óbvia falta de preparação para a abertura e funcionamento da Curadoria, creio não ser esta a melhor altura para assumir a responsabilidade de dirigir a Curadoria da Cidade do Mindelo, pelo que declino o convite verbal formulado, ainda que agradecendo ter o Senhor Ministro considerado o meu nome.

  

Praia, 30 de Abril de 2014

 

 

Ler ainda Empossada a Curadoria da Cidade do Mindelo

 

 

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12 comentários

De Valdemar Pereira a 14.05.2014 às 08:10

"il sied plus mal à un ministre de dire des sotises que d'en faire"
Cardinal de Retz [1613-1672]

De Valdemar Pereira a 14.05.2014 às 08:15

(Cont.)


Penso que muitos cabo-verdianos intra e extra muros, mas nomeadamente mindelenses que vêm sofrendo de repetidas injustiças, vão se inscrever na lista do descontentes devido o que se passa com o Prof. Brito Semedo.

De Eduardo Oliveira a 14.05.2014 às 08:21


Para se governar, um Pais tem a obrigação de escolher os melhores entre os excelentes, os quais devem fazer o menos possível de asneiras para poderem ser tratados de Excelência.
Portanto quando as incongruências se acumulam entra-se no domínio da mediocridade alarvada e ninguém respeita ninguém por mais que se faça para amenizar o descontamento. E como a pedra lançada, os actos que indispõem os cidadãos, obriga-os a ter reacções (que podiam ser dispensáveis)  para se defenderem.

De Djack a 14.05.2014 às 08:44


Um abraço de solidariedade, neste momento delicado cujo teor é indizível. Saltar era de facto a única reacção possível. Resta a pena de ver que se perde para a função uma pessoa que teria muito para lhe dar, que parecia a mais adequada e da qual se esperava uma certa redenção para o Mindelo de que a cidade tanto precisa.


Braça,
Djack

De zito azevedo a 14.05.2014 às 10:48

ESTE CASO TEM TODOS OS CONTORNOS DE UM PRESENTE ENVENENADO...COMO MINDELENSE POR ADOPÇÃO DEIXO AQUI O MEU MAIS VEEMENTE PROTESTO CONTRA A AUTENTICA CABALA MONTADA EM VOLTA DE UMA FIGURA MERECEDORA DE TODO O RESPEITO INSTITUCIONAL E DA MAIOR ADMIRAÇÃO PELA SUA VALIA PROFISSIONAL...A VERTICALIDADE DA ATITUDE QUE TOMOU ENOBRECE-O AINDA MAIS AOS OLHOS DOS SEUS PARES E DOS SEUS ADMIRADORES...
ABRAÇO SOLIDÁRIO
Ziro Azevedo

De José F Lopes a 14.05.2014 às 11:16

É lamentável o que está a acontecer, mas é normal a atitude daquele governo tem sido manipulatória demais em relação a tudo o que diz respeito a nossa ilha. Para o bem de S Vicente espero que ainda vai a tempo de se encontra uma solução.

De Artur Mendes a 14.05.2014 às 12:31

Caro Amigo


Não se apoquente... "sabemos o que a casa gasta" ...Um dia isto há-de ter CURA!


Força e felicidades pessoais e profissionais!.


Amendes

De Lia a 14.05.2014 às 14:51

De facto é lamentável toda esta situação e que como dizes e muito bem, provoca um desgaste e um mal estar pessoal, familiar e profissional desnecessários.
Infelizmente, mais uma vez quem perde é São Vicente pois não vejo outra pessoa (que me perdoem se me esqueço de alguém) com capacidades técnicas e sobretudo com tão grande amor por esta ilha e sobretudo por esta cidade.
Resta-nos apenas esperar que estas situações não se repitam e que a próxima pessoa a ser nomeada receba uma melhor proposta e defenda/promova/dignifique São Vicente.
Um abraço,


Lia

De Adriano Miranda Lima a 15.05.2014 às 12:38

Situo-me entre os muitos cidadãos que neste momento estão a lamentar profundamente a forma como este processo foi conduzido pelo ministro da cultura. Aliás, o meu sentimento é também de enorme frustração porque a nomeação do Dr. Brito Semedo abrira fundadas expectativas entre os naturais da ilha de S. Vicente, como é o meu caso, porque não temos qualquer dúvida de que o nomeado ia emprestar ao cargo o grande contributo do seu saber, da sua competência e da sua seriedade intelectual, tudo isso temperado com o seu acrisolado amor à ilha onde nasceu. Portanto, a perda é pesada demais para que não a sintamos com tristeza.
Melhor do que ninguém conhecerá o Dr. Brito Semedo as razões que assistem à sua decisão. Mas, pelo que ele torna público, qualquer pessoa nas suas condições não deixaria  de proceder do mesmo modo. Não desejo de forma alguma intrometer-me com os procedimentos do ministro da cultura, mas salta à vista de todos que é absolutamente incompreensível que alguém, para mais um professor universitário, seja nomeado para uma função do Estado que lhe acarreta significativa perda remuneratória e, implicitamente, condições de vida. Em todo o lado do mundo civilizado, sempre que alguém altamente qualificado é objecto de uma nomeação no âmbito do Estado, as condições remuneratórias são sempre superiores e particularmente distintas, não apenas por consideração para com o cidadão nomeado mas também para a dignificação do cargo, tanto mais estando em causa um cargo novo para preencher uma gritante necessidade em sector que há muito reclama uma particular atenção, que é precisamente o do nosso património.
Atribuo tudo isto à forma demasiado paroquial e pouco cuidada como certos procedimentos ao nível do Estado continuam a ser tratados na nossa terra. Tudo o que respeita ao Estado não pode compadecer-se com o improviso e o amadorismo, como parece ter acontecido neste caso.

De Aguinaldo Faria a 15.05.2014 às 13:03

Por muito que me custe dizê-lo, acho inadmissível que o terceiro-mundismo se manifeste em Cabo Verde em assuntos onde se reclama rigor, método e competência no modus faciendi .
Mas de um ministro que faz da viola às costas o seu cartão de visita, não se pode esperar outra coisa que não um perfeito e descabelado amadorismo. Não é tolerável que alguém nas circunstâncias do Professor Semedo seja pensado para uma função que à partida lhe vai mexer no bolso comparativamente com a situação anterior. É certo que servir o país não pode ser motivado apenas  pela remuneração, mas o que aqui se releva é algo bem diferente, até porque é inquestionável a motivação da pessoa em causa para servir o seu país. Fá-lo com elevada competência na docência, e tanto devia servir para orientar o procedimento do senhor ministro de maneira diferente. Ninguém, em especial um professor universitário em funções, aceita ser escolhido para uma função que o faz descer de cavalo para burro em termos remuneratórios. Fica logo posta em causa a sua dignidade como pessoa, além de se poder também fazer uma leitura sobre as verdadeiras intenções do senhor ministro.

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