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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 19 Jun 25
Na terra onde cada anúncio é um tambor, ecoou mais um: “Cabo Verde terá a primeira Conservatória de Música em África!” – proclamou, em grande estilo, o Primeiro-Ministro, à margem dos Cabo Verde Music Awards, com direito a holofotes, contratos e protocolo com a International Finance Corporation (IFC). Palmas, claro. Tambores, clarins e, quem sabe, até saxofones!
Mas deixem-me puxar da batuta e perguntar: e a partitura? E o solfejo? Onde estão as salas de ensaio, os professores de harmonia, os currículos de formação artística? Que conservatório é este, lançado com um contrato plurianual com os CVMA (que nem conservatório são) como base fundacional? Desde quando se compõe uma sinfonia a partir do cartaz?
Como de costume, estamos perante mais um daqueles “anúncios bombásticos” a que já nos vamos habituando – e de que já vamos ficando cansados. Anúncios que fazem vibrar microfones, mas desafinam no compasso da realidade. O país onde músicos aprendem solfejo por WhatsApp, onde escolas de arte funcionam sem partitura e onde a formação musical depende do voluntarismo de artistas independentes, anuncia uma conservatória continental. É de levantar a sobrancelha, pelo menos.
Há 50 anos independentes, continuamos sem uma Escola Pública de Música de referência. E nem sequer funcionam, como devia ser, as Bandas Municipais – que, em si mesmas, são verdadeiras escolas de música, com capacidade para formar e renovar os seus quadros, envolvendo a sociedade no processo educativo e cultural. Essa ausência diz mais sobre a prioridade dada à música enquanto política pública do que qualquer promessa televisiva.
Não se duvida da importância de investir na música – rainha da nossa identidade. Mas uma coisa é projectar, outra é concretizar. Já ouvimos falar de conservatórios, escolas superiores de artes, festivais internacionais, orquestra nacional, roteiros culturais e até capitais criativas. Mas, no fim do espectáculo, os instrumentos voltam à estante. Silêncio.
Fico com a impressão de que confundimos “show” com sistema. De que a governação cultural se vai fazendo aos soluços, entre eventos mediáticos e brochuras promocionais. E o problema não está nos anúncios, mas na ausência de uma política pública de educação artística séria, consistente e acessível.
Lembram-se da Academia de Artes? Da promessa de São Vicente como capital cultural do país? De tudo isso restam comunicados e fotografias. Nenhum conservatório se ergue apenas com entusiasmo e marketing institucional. É preciso gente qualificada, infraestruturas decentes, tempo e continuidade – ou seja, aquilo que raramente sobrevive entre duas eleições.
Por isso, com todo o respeito, permitam-me um bemol: em vez de nos deslumbrarmos com a primeira conservatória de África, talvez fosse mais honesto começarmos por garantir a primeira escola pública de música com condições reais em Cabo Verde. Ou, para usar termos técnicos, afinar o instrumento antes de dar o concerto.
Afinal, música sem prática é só barulho. E promessas sem chão não educam, nem transformam. Servem apenas para a propaganda – e essa, meus caros, não canta. Grita.
País | Nome da Instituição Principal | Tipo de Ensino | Equivalente a Conservatório? |
Botswana | Botswana College of Music (Gaborone) | Música Tradicional, Coral e Moderna | Sim |
Costa do Marfim | INSAAC – Departamento de Música | Música Tradicional, Africana e Clássica | Sim (embora não use o nome) |
Egipto | Conservatoire de Musique du Caire | Música Clássica, Árabe e Contemporânea | Sim |
Etiópia | Yared School of Music (Addis Ababa University) | Música Etíope e Clássica | Sim |
Gana | University of Ghana – School of Performing Arts | Música Tradicional e Contemporânea | Sim (modelo universitário) |
Marrocos | Conservatoire National de Musique | Música Clássica e Árabe-Andaluza | Sim |
Moçambique | Escola Nacional de Música (Maputo) | Música Clássica e Tradicional Moçambicana | Sim |
Namíbia | College of the Arts (Windhoek) – Music Department | Música Popular, Clássica e Produção | Sim |
Nigéria | University of Lagos – Department of Music | Música Clássica e Popular | Sim (modelo universitário) |
Quénia | Kenya Conservatoire of Music (Nairobi) | Música Clássica, Africana e Educação Musical | Sim |
Senegal | École Nationale des Arts (ENA) | Música Tradicional e Moderna | Sim (embora não use o nome) |
Tanzânia | TaSUBa – Bagamoyo Arts and Cultural Institute | Música Tradicional e Artes Performativas | Sim (embora mais centrado nas artes) |
Tunísia | Institut Supérieur de Musique de Tunis | Música Árabe e Ocidental | Sim |
Zimbabué | Zimbabwe College of Music (Harare) | Música Clássica, Jazz e Música Africana | Sim |
África do Sul | South African College of Music (UCT) | Música Clássica, Jazz, Africana e Contemporânea | Sim (modelo universitário) |
Nota do autor: Esta crónica faz parte da série Alfinetadas, onde se afinam ideias, se questionam anúncios e se convoca o bom senso – mesmo quando há confettis no ar.
– Manuel Brito-Semedo
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