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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 10 Set 22
Guilherme da Cunha Dantas (Brava 1849 – 1888), jornalista, poeta lírico e romântico, foi o primeiro escritor cabo-verdiano e um dos fundadores da ficção cabo-verdiana, com Contos Singelos, publicado em Mafra, Portugal, em 1867, quando tinha apenas dezoito anos de idade. Curiosamente, 1867 é também o ano em que nasceu o poeta conterrâneo, Eugénio de Paula Tavares.
Escritor da Brava
Contos Singelos, livro de estreia de Guilherme Dantas, com estética do ultra-romantismo português (1860-1870), é constituído por dois contos: “Cenas da ilha Brava” e “Cenas de Mafra”. Fazendo um breve percurso pelos dois contos, em “Cenas da Ilha Brava ou Nhô José Pedro” – escrito longe da terra natal, numa metrópole que define como “terra estranha” – o narrador cobre três gerações ao contar a história de José Pedro, e mostra a complexidade da sociedade local baseada nas relações raciais, no tipo de actividades económicas, nas crenças, nos costumes, na gastronomia. Baseado na sua vivência estudantil na referida cidade, é dedicado ao “amado pai e mestre” [Vitorino Dantas Pereira] e aos “colegas estudantes”. Já “Cenas de Mafra”, é uma história de amor e ciúme juvenil, que decorre entre Mafra e Ericeira – muito procuradas na época para as férias de verão de famílias lisboetas – com episódios dramáticos que incluem morte da protagonista e desafio para um duelo entre rivais.
Retrato (re)criado
A história da fotografia em Cabo Verde tem como referência Djindjon de Melo (João Henriques de Melo), um fotógrafo amador nascido em Santiago (1871–1944) que, em 1890, fundou em Mindelo o estúdio Foto Melo que foi, por cerca de cinquenta anos, a única casa fotográfica da ilha de São Vicente. Isso para dizer que tendo Guilherme Dantas falecido na Praia dois anos antes de Djindjon de Melo se ter mudado para Mindelo, este, portanto, não teve a oportunidade de o fotografar, o que talvez explique a ausência de um registo fotográfico do escritor. Vimos tentando, há vários anos, encontrar algum retrato dessa figura proeminente das nossas letras, tentativa essa frustrada até o presente. Assim, desafiamos um caricaturista amigo para, a partir de uma descrição do poeta José Lopes, criar em traços de lápis o que seriam essas feições desconhecidas:
“Estou a vê-lo, bem presente, tez alourada, cabelo castanho claro e anelado, olhos da côr de certos topázios, tristes e vagos, a inseparável luneta, o chapéu de côco e o também inseparável fraque, a bengala de cerejeira e as botas fortes...”, José Lopes, "Guilherme Dantas", in Vida Contemporânea, Junho,1935.
Este amigo caricaturista é João Raimundo Gomes Brito, natural de São Vicente, licenciado em Comunicação Social – cinema e vídeo, professor na Escola secundária Jorge Barbosa, em Mindelo. Adoptou o nome artístico de Joray, é também artista plástico, cartunista e foi colaborador do jornal A Semana. Tem no seu portfólio uma exposição de pintura e duas de cartuns e caricaturas, realizadas em Mindelo. Apesar do belo trabalho de Joray, ainda mantemos a esperança de que, quem sabe em arquivos da família ou até de particulares, possamos encontrar algum material fotográfico, que nos revele a figura real desse ícone da literatura cabo-verdiana.
“Que o olvido, esse ingrato esquecimento, não apague a sua [Guilherme Dantas] memória”, Hipólito da Costa Andrade, Almanach de Lembranças Luso-Brasileiro, 1888.
Obra completa
- Contos Singelos (Mafra, 1867), contos
- Poesias (Praia, 1996), publicação póstuma
- Memórias dum Pobre Rapaz (Praia, 2007), romance, publicação póstuma
- Contos e Bosquejos (Praia, 2017), contos e crónicas, publicação póstuma
– Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Olá Brito Semedo. Também apresento m/condolências ...
Bom dia,Apraz-me realçar que li, atentamente, o te...
Boa-noite. Que eu saiba, as crónicas do Nhô Djunga...
Parabéns pelo seu trabalho e força sempre nesta luta em resgatar, preservar e valorizar a nossa cultura.
Forte abraço.