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Topo Coroa.jpeg

Topo da Coroa, Ponto mais alto de Santo Antão

 

 

Sinos de silêncio

ressoam no eco da abóbada

memórias que sonham.

 

“Topo de Coroa”

 

CORSINO FORTES

 

corsino_fortes.jpg

 

O já longo percurso do Poeta Corsino Fortes (Mindelo, n. 1933) – do Pão & Fonema aos Haikais – acompanha o país que sonha há quarenta anos, registando e guardando as memórias do seu percurso.

 

Contrariando a tese defendida por Baltasar Lopes de que “tudo é Claridade”, Corsino Fortes ensaia, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, com o poema Pão & Fonema, uma linguagem agressiva e vibrante que contrasta com as representações mais politicamente correctas, o que seria mais correcto numa perspectiva de crítica sociológica literária, dos seus antecessores.

 

Na opinião de Russel Hamilton (1985), estudioso das literaturas africanas de língua portuguesa, João Varela (Mindelo, 1937-2007) e Corsino Fortes lançaram um estilo poético consistente com a entrada de Cabo Verde dentro da corrente turbulenta da história.

 

Corsino Fortes estreou-se como poeta em 1959 no Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes com o poema “Mindelo”, tendo posteriormente colaborado na Claridade, revista de arte e letras, no seu último número, e no Cabo Verde – Boletim de Informação e Propaganda, mas é com a publicação do Pão & Fonema, em 1974, que se afirma como um poeta maduro e inovador.

 

Com este poema, Corsino Fortes agita as águas da literatura ao reformular Cabo Verde em termos épicos e cria, para o efeito, uma nova gramática poética, na base de símbolos e sons.

 

Seguindo o mesmo estilo, em 1986 Fortes publica Árvore & Tambor e, em 2001, Pedras de Sol & Substância, completando, assim, a trilogia poética épica, reunida em A Cabeça Calva de Deus.

 

Pão & Fonema é um extenso poema épico de estilo elevado cujo título revela a intenção de unir a força fonética da palavra (o “fonema”) ao símbolo universal da substância humana (o “pão”).

 

No prefácio ao livro, o antropólogo Mesquitela Lima, explica que “o poeta […] pôs o dedo nos grandes dramas do povo caboverdiano e é curioso notar que, de verso em verso, de poema em poema, sentimos a fome, as secas, a inquietação, a serenidade, a ‘dor de cara contente’ de povo dominado”.

 

Árvore & Tambor, o segundo poema, retoma a proposta do primeiro, alargando-o. É Ana Mafalda Leite, especialista em literaturas africanas de língua portuguesa, que assim o diz no seu prefácio: “Do resquicial fonema que reclamava a liberdade de ser palavra e voz, advém o tambor, som pleno, que pela sua tradição africana impõe uma nova linguagem de identidade com África […]. Árvore retoma por sua vez o ‘Pão’; trata-se de concretizar: plantar, construir, renovar o corpo, o espírito, a palavra, a terra, a nação”.

 

Pedras de Sol & Substância encerra a trilogia anunciada desde Pão & Fonema onde o Poeta apresenta a vertente arqueológica e cultural da história de Cabo Verde.

 

Os poemas longos, que até então caracterizaram o estilo de Corsino Fortes e toda a sua produção, dão agora lugar aos haikais, pequenos poemas em três frases ou versos de 5, 7 e 5 sílabas, uma expressão poética japonesa do século XIX.

 

Quase quinze anos depois da publicação da sua trilogia épica Na Cabeça Calva de Deus, Corsino Fortes prepara um novo livro, Sinos de Silêncio. Canções e Haikais, com que pretende assinalar os quarenta anos da independência nacional.

 

Sou o primogénito

fonte das rugas da vida

e da luz do espírito.

 

“Monte Cara

 

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Monte Cara, Cara de SonCente. Foto Zé Patta, Abril 2013

 

Que o Poeta Corsino Fortes nos continue a brindar com novas produções.

 

 

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2 comentários

De Joaquim ALMEIDA a 26.03.2015 às 09:04

Também concordo com o teu comentàrio Adriano ; num momento em que atravessàmos um periodo de incertezas sobre a nossa cultura , creio que devemos desejar ao " nosso " poeta , Cursino Fortes , longos anos de vida e muita inspiraçao nas suas poesias !..

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