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Brito-Semedo, 5 Out 25

Num tempo em que ensinar é também resistir, o Dia Mundial do Professor recorda-nos o exemplo de Baltasar Lopes, mestre maior da cultura cabo-verdiana. Entre as salas das ilhas e as da diáspora, persiste a sua lição: só com rigor, humildade e esperança se constrói um país que aprende, que sonha e que não desiste.
Celebrar o Dia Mundial do Professor, instituído pela UNESCO em 1994 e assinalado todos os anos a 5 de Outubro, é celebrar a inteligência em acto e o ofício mais silencioso e transformador de todos: o de ensinar. É também reconhecer, em cada escola e em cada aldeia, o papel de quem faz do saber um gesto de fé no futuro.
Em Cabo Verde, a figura de Baltasar Lopes da Silva (1907-1989) continua a ser uma das expressões mais nobres dessa vocação. Muito antes de ser o autor de Chiquinho ou o fundador da revista Claridade, Baltasar foi – e quis ser acima de tudo – professor.
Licenciado em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, regressou às ilhas para ensinar, recusando em 1945 o convite para leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa. O gesto foi simbólico e revelador: preferiu permanecer fiel ao arquipélago, às suas gentes e à missão de formar consciências.
Durante décadas ensinou no Liceu Gil Eanes, em São Vicente, onde também exerceu as funções de Reitor. Entre os seus alunos – muitos deles futuros dirigentes, escritores e diplomatas – ficou conhecido pelo apelido afectuoso Ti Báltas. A todos transmitia o mesmo rigor e entusiasmo: a ideia de que aprender era o caminho da dignidade e da liberdade.
Baltasar Lopes não ensinava apenas a ler ou a declinar verbos. Ensinava a pensar Cabo Verde, a descobrir beleza na língua, a respeitar o outro e a cultivar o espírito crítico. Para ele, a escola era mais do que um edifício: era um espaço de civilização, um ponto de encontro entre a cultura europeia e o mundo crioulo.
Quando afirmava, com ironia, que “somos, vá lá o termo, policlínicos”, referia-se à condição do intelectual cabo-verdiano que tem de ser tudo um pouco – professor, advogado, escritor – por necessidade e por amor ao país. Mas no centro dessa pluralidade estava sempre o mestre, o homem que acreditava no poder libertador da palavra.
Mesmo após a jubilação, em 1972, o seu magistério não cessou. Continuou a ensinar através dos livros, das conferências, das crónicas e das conversas. Chiquinho, publicado em 1947, é em si uma lição sobre o valor do estudo: o percurso do protagonista, da infância em São Nicolau à partida para a América, simboliza o caminho de todo um povo em busca de instrução e futuro. Como o próprio Chiquinho diz, “o estudo é a única herança que ninguém nos pode tirar”.
O amor pela língua e pelo ensino levou Baltasar Lopes ao estudo científico do crioulo, culminando na obra O Dialecto Crioulo de Cabo Verde (1957) – um marco da linguística lusófona. Via na língua materna “a respiração do povo” e denunciava como “crime de genocídio” qualquer tentativa de a erradicar.
Ao longo da vida, Baltasar Lopes foi distinguido com várias honrarias – Comenda da Ordem do Infante D. Henrique (1962), Ordem de Instrução Pública (1972) e Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa (1981). Mas o maior prémio que recebeu foi o respeito e o carinho de gerações que o reconheceram como modelo de saber e de carácter.
Hoje, ao lembrarmos a lição de Baltasar Lopes, recordamos que ser professor é muito mais do que exercer uma profissão: é sustentar, dia após dia, o sonho de um país que acredita no poder do conhecimento.
Que o seu exemplo – feito de rigor, humildade e esperança – continue a inspirar todos os docentes cabo-verdianos, nas ilhas e na diáspora, a manter acesa a chama de ensinar e de aprender, mesmo quando o caminho é difícil e o horizonte parece longe.
Praia, 5 de Outubro de 2025
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