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No dia de hoje – 18 de Outubro –, o dia de exaltação da nossa forma de ser e de estar, simbolizando a expressão de um sentimento comum, profundo e verdadeiro, que espelha o orgulho de sermos filhos desta terra querida feita de “dez gronzin di terra que Deus espadja na mei di mar”…, pela responsabilidade que tenho em promover a união entre todos os cabo-verdianos, incluindo, naturalmente, todos os que vivem no estrangeiro, sinto-me particularmente honrado e privilegiado ao me dirigir a todos os cabo-verdianos, dentro e fora do país. Associar o Dia Nacional da Cultura e das Comunidades a Eugénio Tavares, de tão natural que quase se constitui numa redundância. Eugénio Tavares é Cabo Verde, cabo-verdianidade, morna, lirismo, poesia. A sua criação é de tal ordem profunda que assume a grandeza da essência das coisas simples, das que tocam, entranham-se, confundem-se com a respiração, a alegria, a tristeza, a vida, o amor. Eugénio, o maior, conseguiu captar o que somos, o que sentimos, o que vivenciamos e sonhamos e transformá-lo em algo que, é, genuinamente, nosso e simultaneamente nos ultrapassa, fazendo-nos mais ricos, mais gente, mais cabo-verdianos. Eugénio Tavares elevou um dos seus elementos fundamentais, a morna, a níveis sublimes e pouco mensuráveis, utilizando de forma magistral uma das nossas mais importantes ferramentas identitárias, a nossa língua. A nossa cultura, medrada nestes mais de cinco séculos, é a nossa maior riqueza; de facto, o que nos liga decisivamente, estejamos onde estivermos. Através da Cultura o Ser cabo-verdiano se afirma. Não interessa se nasceu no país ou no exterior, na cidade ou no campo, se conhece ou não o chão das ilhas. O que conta é que o seu ser é ritmado pela cultura de Cabo Verde, pela música, pela língua, pelo modo de estar, de lidar com os outros, de se relacionar com o mundo. «A nossa Cultura é a minha Pátria», afirmei há algum tempo tendo em conta toda esta riquíssima realidade. Ela contém e ultrapassa o nosso querido torrão e tem o condão de abarcar pessoas de todos os quadrantes, de todas as cores, de todos os credos. É ela que consubstancia a Nação que, como sabemos, antecede o próprio Estado. A língua cabo-verdiana, importantíssimo instrumento de comunicação e afirmação, assume no vate e pensador bravense a qualidade de ponte de emoções, de elo de comunicação entre almas, transcendendo, assim, aquela condição e assumindo a de parcela importante da nossa subjectividade, de pedaço dessa mesma alma. Somos portadores de uma cultura cuja pujança se tem afirmado em diferentes áreas, mas que na música, particularmente na Morna, tem encontrado a sua expressão mais completa e profunda. Essa expressão da cabo-verdianidade, seguramente uma das mais autênticas ao lado da língua cabo-verdiana com a qual quase sempre se funde, está em vias de ser proposta para património imaterial da humanidade. Muitos eventos musicais têm ocorrido no país e na diáspora, juntando milhares de pessoas ou grupos mais restritos, para se deleitarem com a nossa música e com os sons dos outros, alimentando essa simbiose, quase sempre apropriada de forma criativa. Há tendência cada vez mais forte, no país e na diáspora, para a promoção dos géneros tradicionais não só na sua forma convencional emprestando novas roupagens sonoras, inovando, sem descaracterizar a nossa música. As artes cénicas, particularmente o teatro, de forma espontânea, têm conhecido apreciável movimentação, que traduz alguma intensificação de actividades que sempre existiram em quase todas as comunidades. O impulso que o festival Mindelact tem imprimido ao teatro em termos de estímulos, exibições, intercâmbio e capacitação, tem sido de grande valia. A literatura cabo-verdiana, uma das bandeiras de grande relevo da nossa Cultura é, indelevelmente, um dos elementos conformadores da nossa identidade. Os nossos escritores, o poeta Eugénio Tavares incluído, têm tido papel de relevo no nosso panorama, descrevendo a nossa maneira de ser, cantando as nossas alegrias e assumindo na poesia e na prosa as nossas angústias e anseios na perspectiva da universalidade. O Prémio Camões, atribuído a Arménio Vieira, é um tributo ao talento desse poeta e, cremos, também, o reconhecimento da maturidade da nossa literatura, edificada graças à criatividade de inúmeros homens de letras, como o poeta Aguinaldo Brito Fonseca e o contista Virgílio Pires, já falecidos e dois nomes por vezes pouco lembrados entre nós. Os nossos pintores fotografam com muita arte a sua e a nossa alma e cristalizam as nossas emoções em cores mais vivas ou menos vivas ou a preto e branco, contribuindo, dessa forma, para que as artes plásticas se afirmem cada dia mais, com reconhecimento além-fronteiras. Com graça, leveza e de modo decidido, a dança tem procurado conquistar o seu espaço, percorrendo as veredas por vezes estreitas entre o tradicional, o clássico e o moderno. Somos um património da Humanidade. A nossa presença e trajectória no mundo, feita de tenacidade, perseverança, abertura ao outro, pedaços vários, justificam tal afirmação. O berço da nossa nacionalidade já obteve esse reconhecimento que, naturalmente, ultrapassa o emblemático território da Ribeira Grande para se alojar nas profundezas de todos os cabo-verdianos. Esse reconhecimento nos engrandece. Engrandece a humanidade. Celebra-se hoje, também, o dia das comunidades, dessa nossa parte espalhada pelo globo e que tem Cabo Verde por referência maior, devido a laços familiares, de consanguinidade mas, sobretudo e fundamentalmente, à seiva vivificadora que é a Cultura. Essa comunidade profundamente ligada à terra, muitas vezes sem a conhecer- “Sou da Brava mas nasci aqui”, ouve-se com frequência no exterior - é parte essencial de Cabo Verde. Realço, pois, essa dimensão cultural da nossa comunidade diaspórica que, de longe, conserva as tradições mais vivas e fecundas herdadas da terra natal. Mantidas, quase intactas e orgulhosamente, na alma dos que partem, as comunidades cabo-verdianas fora do país têm muito contribuído para a garantia do sentido de pertença e de identidade da nossa Nação. Em todos os continentes os cabo-verdianos dão a sua contribuição, nas áreas mais diversas para que o mundo seja melhor, fazendo da cabo-verdianidade uma bandeira desfraldada em todos os recantos do globo. Esta parcela da nação cabo-verdiana está e estará sempre no centro das minhas atenções, como Presidente da República, função para a qual serei empossado daqui a 2 dias (20 de Outubro). No cumprimento do novo mandato para o qual fui reeleito pelo povo cabo-verdiano, dentro e fora do país, a minha actuação junto das nossas comunidades continuará a ter como prioridades o reforço do sentimento de pertença a esta Nação, através do estímulo a acções que tenham em vista o recorte da identidade cultural e a ampliação da sua participação política, e a promoção da integração das nossas comunidades nos países de acolhimento. Continuarei a exercer a minha magistratura de influência nessa direcção, concedendo uma atenção particular a comunidades que se encontram em situação especialmente precária. No dia em que celebramos a nossa Cultura, cimento que une os cabo-verdianos residentes e os da diáspora, através dessa gente que trabalha, que vive, que ama, que estuda, que pesquisa, que sofre, no estrangeiro e que no dia-a-dia abraço no meu pensamento e que, sempre que posso, beijo na face, o nosso país cresce, agiganta-se. Concluo, retomando o extracto de uma mensagem que dirigi à Nação e que traduz o meu sentimento, profundo e verdadeiro, enquanto cidadão orgulhoso de ser cabo-verdiano e de partilhar a identidade e a alma que nos molda como Povo: «Renovo a minha grande confiança na capacidade e na tenacidade com que mulheres e homens, nas queridas ilhas e na diáspora, engrandecem, no seu dia-a-dia, esta Pátria de Cabral, de canizado e bandeiras, de Eugénio Tavares e Cesária Évora, de pedaços do universo muitos, da morna e do funaná, de B.Leza, de poesia e dança, de claridade e bruma, de teatro e de Ildo Lobo, de Sema Lopi, de Baltazar Lopes e Bana, de caras e sorrisos vastos e lindos, de Arménio Vieira e de muitas cores, de enormes e misteriosos mares, de Travadinha, de Bibinha Cabral e de Djidjinho, mas também de crenças, revoltas e volúveis montanhas, castanhas, roxas, verdes, esta Pátria de esperança e de fundo azul a bordejar o devir colectivo. Em Sal-Rei, em Brockton, na Ribeira de Craquinha, na Buraca e no Príncipe, na Cova de Joana e Achada Lagoa, no Morrinho, em Ponta Verde e Ponta do Sol, na Covoada e em S. Paulo, onde quer que haja a inscrição do nome, onde se vislumbrar um pedaço de Cabo Verde.»

 

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Jornalista e Poeta Eugénio Tavares

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