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Foi com profundo pesar que se recebeu a notícia do falecimento de Eugénio Inocêncio, Dududa, uma figura marcante na esfera pública e cultural de Cabo Verde. Inocêncio, que faleceu aos 74 anos no dia 18 de Setembro em Lisboa, teve uma carreira multifacetada como político, economista, empresário e escritor, deixando um legado de serviço e contribuição à Nação.

 

Nascido em Santo Antão, Porto Novo, a 6 de Julho de 1950, Eugénio Augusto Pinto Inocêncio destacou-se desde cedo pela sua dedicação à causa cabo-verdiana. A sua trajectória política foi notável, moldada por uma paixão inabalável pela justiça e pelo desenvolvimento do seu país. Lutador incansável pelas causas da independência, foi um dos parlamentares que participaram da proclamação da independência de Cabo Verde em 1975. Posteriormente, também exerceu o cargo de deputado no regime multipartidário, eleito pelo MpD. Ao longo deste processo, enfrentou desafios que apenas reforçaram a sua convicção de que a liberdade e o progresso eram direitos inalienáveis dos cabo-verdianos.

 

Em 1979, após romper definitivamente com o PAIGC, o partido único que dominava o cenário político cabo-verdiano na época, Inocêncio enfrentou represálias severas, como era de se esperar para aqueles que ousavam questionar o regime. As consequências de sua dissidência foram imediatas e cruéis: agressões físicas e detenção arbitrária, visando silenciar a sua voz de contestação. Esses episódios marcaram profundamente sua trajectória pessoal e política, deixando claro o preço elevado a ser pago por aqueles que lutavam contra a opressão e pela liberdade de expressão.

 

Forçado pelas circunstâncias, e percebendo que sua segurança e sua própria vida estavam em risco, Dududa optou pelo exílio em Portugal, onde continuou a luta de outra forma, dedicando-se ao jornalismo económico e persistindo em sua militância pela democratização da sociedade cabo-verdiana. Mesmo à distância, nunca deixou de sonhar com um Cabo Verde mais livre e mais justo, ajudando a moldar o pensamento crítico que culminaria na abertura política de 1991.

 

Com a chegada da democracia em Cabo Verde, Eugénio Inocêncio regressou ao seu país e logo foi convidado a desempenhar funções de grande relevância no governo. Como Conselheiro Económico do Primeiro-Ministro e posteriormente Embaixador em Portugal, Espanha e França onde continuou a sua luta, agora no campo diplomático e estratégico, promovendo a imagem de Cabo Verde no mundo. Mais tarde, ao estabelecer-se na Ilha de Santiago, Dududa assumiu cargos de liderança, incluindo a presidência do Conselho de Administração da CVTELECOM. Em cada função que desempenhou, Eugénio Inocêncio demonstrou uma visão inovadora, combinada com um compromisso incansável com o bem comum.

 

Seu papel no desenvolvimento do turismo em Cabo Verde também foi de suma importância. Como Presidente da Associação de Turismo de Santiago e Vice-Presidente da Câmara de Turismo de Cabo Verde, foi responsável por impulsionar o sector turístico da ilha, acreditando firmemente que o turismo poderia ser um motor para o desenvolvimento económico e cultural do país. A sua liderança ajudou a posicionar Cabo Verde como um destino turístico relevante, destacando as belezas naturais e a riqueza cultural do arquipélago.

 

Paralelamente à sua vida pública e empresarial, Eugénio Inocêncio aventurou-se no mundo da literatura, onde deixou sua marca com duas obras que capturaram a essência da vivência cabo-verdiana. O seu primeiro romance, Múrcia (2017), trouxe uma nova perspectiva ao ambiente literário cabo-verdiano, ao retratar a cidade da Praia como o cenário central de uma narrativa urbana, oferecendo uma visão única da capital pela lente de um autor nascido em Santo Antão. Em 2022, lançou Depois das Mangas Vêm os Abacates, um título sugestivo que reafirmou a sua habilidade em usar a literatura para explorar as nuances da vida cabo-verdiana, mesclando humor e crítica social.

 

A sua morte deixa um vazio profundo e irreparável, não apenas no sector empresarial e turístico, mas também no cenário político e cultural de Cabo Verde. Eugénio Inocêncio, Dududa, será lembrado como um combatente incansável pela liberdade, pela justiça e pelo progresso do seu país. A sua dedicação, o seu talento multifacetado e a sua paixão por Cabo Verde continuarão a inspirar futuras gerações. O legado que construiu, tanto na política quanto no desenvolvimento empresarial e literário, ficará eternamente na memória de todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecer e admirar o seu percurso.

 

Manifestamos as mais profundas e sinceras condolências aos filhos, familiares e amigos, neste momento de dor e perda. Que encontrem conforto nas memórias e no legado deixado por quem parte, permanecendo para sempre nos corações de todos.

 

– Manuel Brito-Semedo

 

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Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...

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Jornalista e Poeta Eugénio Tavares

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  • pedro Lima

    Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...

  • ANONIMUS

    Interessante que isto me lembra um estória de quel...

  • Khaly Angel

    Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...

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