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Falucho na Barra do Tejo

Brito-Semedo, 18 Mai 25

 

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Velas içadas, o Falucho faz-se novamente ao mar – agora com mais lastro, mais vento nas velas e mais memórias no porão. Nesta segunda edição, redobrada no seu fôlego e enriquecida com novos contributos, quero prestar o meu tributo a quantos ajudaram a tornar este projecto possível, desde os dias em que singrava semanalmente nas páginas do Expresso das Ilhas até ao momento em que, com o cuidado editorial da Rosa de Porcelana, encontrou forma impressa e corpo de livro, pronto para singrar novos mares de leitura.

 

Aos leitores que embarcaram desde a primeira hora e aos novos passageiros que agora se juntam à travessia, o meu muito obrigado. Cada leitura é um porto de escala, cada comentário um vento favorável, cada lembrança partilhada uma estrela de orientação.

 

Agradeço, em particular:

– à Rosa de Porcelana Editora, pela confiança redobrada nesta nova edição;

– a Ondina Ferreira, pela nota de leitura generosa que serve

de carta de navegação;

– a Margarida Fontes, pelo lúcido e sensível texto de leitura final, que encerra esta viagem com chave de ouro, conduzindo o leitor a porto seguro;

– aos amigos e familiares que, com entusiasmo e espírito crítico, alimentaram esta travessia com ânimo, sugestões e memórias;

– e, sobretudo, aos velhos mestres, capitães e marinheiros das nossas ilhas, cujas vidas singraram mares e moldaram destinos – a vós dedico esta singela homenagem.

 

Não posso deixar de destacar o contributo dos artistas plásticos cujas obras conferiram ao livro uma dimensão visual profundamente evocadora. A capa, com a pintura Menino-Marinheiro de Kiki Lima, empresta à edição um lirismo nostálgico e uma vibração atlântica que traduz com rara sensibilidade o espírito da infância ilhéu e o fascínio pelos barcos. A pintura do veleiro Matilde, de José Azevedo, feita a pedido de Luís António Martins de Faria, devolve à memória colectiva um navio mítico, resgatando da névoa do tempo uma tragédia que ainda ecoa na alma bravense. As fotografias antigas dos demais barcos, embora de autoria desconhecida, possuem a força silenciosa dos arquivos e dão corpo à história, ancorando a narrativa num real palpável e visualmente tangível.

 

Um agradecimento muito especial ao meu amigo Joaquim Saial, homem calejado nas lides do mar 'desde menine', guardião das histórias dos marinheiros da Capitania, dos homens da Rua de Passá-Sabe e da Praia de Bote, pela perícia demonstrada enquanto timoneiro nas manobras que trouxeram o Falucho até à barra do Tejo, guiando-o com mão segura até amarrá-lo ao Cais das Colunas e fazê-lo aportar ao Chiado. Djack, esta viagem mais parece saída da morna 'Ondas sagradas do Tejo' – Deixem-me beijar as tuas águas / Deixem-me dar-te um beijo / Um beijo de mágoa / Um beijo de saudade / Pra levar ao mar / E o mar à minha terra – agora em sentido inverso: é o Falucho quem traz esse beijo de volta, uma ‘encomenda d’ terra’ chegada a Lisboa com sal na memória e saudade nos porões.

 

Com emoção e honra, registo ainda que este Falucho fundeou em Lisboa, cidade-porta-atlântica e porto de abrigo de muitos patrícios das ilhas, tendo sido acolhido com generosidade e elegância pelo Grémio Literário. A essa instituição centenária, símbolo do diálogo cultural e da hospitalidade portuguesa, expresso o meu profundo reconhecimento por ter aberto as suas portas e o seu salão para o lançamento da obra em terras lusas.

 

Se este livro conseguir manter viva a memória das embarcações de outrora e reacender, nas novas gerações, o fascínio pelo mar e pelas histórias que ele nos conta, então o Falucho terá cumprido o seu rumo.

 

Com gratidão e esperança renovada do Capton de Falucho, EU.

 

Lisboa, 16 de Maio de 2025

 

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