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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 3 Abr 15
MUDANÇA
C’ bocês
Sempre c’ bocês
nesse luta de tude dia
nesse sperança de tude hora
rise verde e fartura
midje tchuva e sabura
C’ bocês
nesse terra de silencie
nesse tochore sem pecóde
trabói suor e trabói
riqueza de terra ê pa quem?
C’ bocês
sempre c’ bocês
sol quente na cabeça
tchuva de riba de corpe
nôs dstine ê sô um:
vra nôs terra note terra
– Ovídio Martins
in Não Vou para Pasárgada, 1998
Ovídio de Sousa Martins
(S. Vicente, 17 de Setembro de 1928 – 29 de Abril de 1999)
É-me muito grato ver aqui evocado nosso poeta Ovídio Martins, por obra e graça do Brito Semedo, logo secundada pelo excelente e interessante comentário de Luiz Silva. O Luiz conta aqui factos sobre a vida pessoal do poeta que não serão do conhecimento de toda a gente, daí a grande pertinência da sua intervenção neste post.
De entre tudo o que li, despertou-me particular atenção a observação de que a expressão “Não vou para a Pasárgada” não passou de uma brincadeira de café com o João Vário. É que eu pensava, assim como certamente muita gente, que essa expressão continha verdadeiramente uma assumida e consciente carga ideológica, significando uma oposição ao evasionismo de Manuel Bandeira e, também, de Baltasar Lopes. Ou ela terá nascido, sim, de uma casual brincadeira que, entretanto, depois fermentou intelectualmente e frutificou como mensagem poética, como sabemos, ou julgamos saber?
Seria de interesse que o Luiz esclarecesse melhor o que ouviu ao poeta.
Nunca vi em pessoa o Ovídio Martins e gostaria de o ter conhecido.
Eis outro nome que não entendo não esteja na toponímia da nossa cidade.
Segunda parte:
Como o Ovídio dizia sempre, e creio ter escrito que nunca escreveu nada contra os Claridosos, já é tempo de esclarecermos esta situação e fechar este parêntese na vida do poeta, para o repouso das almas dos Claridosos e do Ovídio, homem de fino trato, incapaz de ofender os amigos, quanto mais o seu antigo professor Baltasar Lopes.
Uma rua, meu povo, para o poeta Ovídio Martins, o Vidinha para o Gabriel Mariano, um outro que fez muito para a cultura caboverdiana e em especial para o teatro mindelense e que precisa de ser homenageado.
Luiz Silva
P.S. no meu primeiro comentário enganei-me ao dizer que o Ovídio voltou à Holanda em 1963, quando eu devia escrever « 1973 ». As minhas desculpas.
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...
Conheço a poesia do Ovídio desde os princípios dos anos sessenta. Mas foi em Paris, talvez em 1969 ou 1970 que travámos conhecimento. Já não ouvia quase nada: amigos nossos fizeram-no visitar os maiores especialistas da França, mas sem qualquer resultado. Um verdadeiro escritor ao serviço da luta de libertação de Cabo Verde: levantava-se cedo e ia comprar o seu jornal comunista «l’Humanité» e depois submetia-se à árdua função da escrita. Escrevia muitos poemas, tanto em crioulo como em português, exercitava-se no conto e crónicas. Os poemas vieram a ser publicados na Holanda no livro «Cem poemas – Não vou para a Pasargade». É de se estranhar que sendo muitos dos poemas dedicados a amigos e camaradas, na edição da Holanda os nomes dessas pessoas desapareceram, como foi o caso do poema «Não Vou para à Pasargade» que teria sido dedicado ao poeta João Vário na primeira edição do poema em Portugal, nos princípios dos anos sessenta. Nunca o Ovídio fez caso desta expressão «Não Vou para à Pasargade», preferindo mesmo dizer que foi uma brincadeira de café com o Vário a respeito da sua nova poesia. E todos já sabem do destino desta frase que levou mesmo o Dr. Baltasar a reagir num artigo publicado na revista Ponto e Vírgula. De Paris foi a Conacry onde deve ter passado uns cinco meses e, devido às dificuldades de viver num lugar onde faltava a imprensa escrita, regressou de novo a Portugal, via Paris. Somente em 1963 voltou a Roterdão onde colaborou no Nôs Vida. Admirador dos escritores russos, como Gorky, e também de António Aurélio Gonçalves, sonhava em escrever contos sobre a realidade mindelense. Publicou na colecção angolana Embondeiro o conto Tchutchinha.
A data da morte do Ovídio não merecia passar tão despercebida em Cabo Verde e em especial em São Vicente que tão bem soube poetizar os seus homens e mulheres, lutadores para a vida, catando pão duramente para a sua dignidade.
Foi também músico (pianista) e não se sabe se deixou algumas composições.
Hoje em Lisboa a Associação dos antigos alunos do Liceu Gil Eanes presta-lhe uma homenagem de gratidão.
A Câmara Municipal de São Vicente poderia dar o seu nome a uma praça ou a uma rua.
Obrigado Lelela de Xanda por nos teres lembrado desta data simbólica.
Caboverdianamente,
<o:p>
Luiz Silva