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Rénas: a balada que não se cala

Brito-Semedo, 27 Set 25

 

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Às Sobrinhas Renata e Lúcia Cardoso

 

 

Diplomata da Independência

 

Renato de Silos Cardoso, o nosso Rénas, nasceu em Mindelo a 1 de Dezembro de 1951 e partiu prematuramente, na Praia, a 29 de Setembro de 1989. Jurista, diplomata e político, mas também músico e poeta, foi uma das figuras que encarnaram o espírito dos anos da independência, acreditando que Cabo Verde podia ser mais justo, mais livre e mais humano.

 

O seu percurso político e diplomático esteve ligado às primeiras décadas do Estado cabo-verdiano, quando o jovem país procurava afirmar-se num mundo bipolar, marcado pela Guerra Fria e pelos desafios da descolonização africana.

 

Nessa conjuntura, foi conselheiro do Primeiro-Ministro e exerceu as funções de Secretário de Estado da Administração Pública, assumindo responsabilidades num momento em que se lançavam as bases da governação do novo Estado. Exerceu também funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros e integrou missões oficiais em África e na Europa, contribuindo para a projecção externa do país.

 

Da prática política à criação cultural havia, para Rénas, um fio de continuidade. Convicto de que a política devia ser ponte entre povos e culturas, para Rénas, política e cultura eram inseparáveis: a palavra tinha de ser voz de consciência e de mudança.

 

A Voz da Morna-Balada

 

Essa ponte entre diplomacia e cultura foi também a via que conduziu a sua criação musical, onde a sensibilidade do poeta se uniu ao olhar do cidadão.

 

As letras que compôs transformaram-se em símbolos colectivos: Tanha (Bulimundo, 1983), evocação pungente da emigração como dor e destino; Altu Kutelu (Os Tubarões, 1987), denúncia clara da exploração e da injustiça social; Terra Bô Sabê (Os Tubarões, 1989), retrato duro da vida rural; e Porton d’Nôs Ilha (Os Tubarões, 1994), publicado postumamente, canto de dignidade e esperança. Este conjunto de obras cristalizou o género que lhe ficou associado – a morna-balada – onde lirismo e crítica social se entrelaçam, fazendo da música lugar de resistência e de sonho.

 

O livro A Morna-Balada – O Legado de Renato Cardoso, de Manuel Brito-Semedo, publicado em 1999 e reeditado em 2007, fixou esse património e acrescentou-lhe uma leitura crítica. As capas de Kiki Lima – Violino Azul na primeira edição e Xpnikador na segunda – completam o tributo: a primeira traduzindo a dimensão simbólica da música, a segunda captando o gesto concreto do intérprete. São imagens que, como as canções de Rénas, falam de um Cabo Verde plural, insular e atlântico.

 

A sua vida breve não impediu que deixasse marcas profundas: na arena política, como conselheiro, secretário de Estado e diplomata que ajudou a afirmar o Estado; na cultura, como criador que deu voz a um povo em busca de reconhecimento. O tempo passou, mas a sua presença mantém-se viva em cada acorde, em cada palavra, em cada memória que se reacende quando o povo canta a sua obra.

 

Renato Cardoso: uma vida interrompida, um legado imenso, uma balada que permanece no tempo.

 

 

 

Manuel Brito-Semedo

 

 

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