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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 19 Mar 20
Simão Manuel Alves Juliano, natural da Penha de França, Concelho da Ribeira Grande, ilha de Santo Antão (1824-1856), filho de Manuel Alves Juliano e de Ana dos Santos Pedrinho, conhecido como Simão Salvador o intrépido marinheiro, é, a partir de agora, história em quadradinhos por Gildaris Pandim (roteiro) e Alex Sander (arte), uma edição da Embaixada do Brasil em Cabo Verde.
As Revistinhas do meu Tempo
As revistinhas ou livros de quadradinhos, que líamos sofregamente em São Vicente nos idos anos de 1960, adquiridos na Papelaria de Toi Pombinha, localizada nas traseiras da Câmara Municipal, lateral do Mercado Municipal, e que circulavam entre nós em regime de trocas, eram Colecções de Aventura, do faroeste americano, com índios e cowbois, da Segunda Guerra Mundial, com Major Alvega e o agente secreto inglês N-3, de super-heróis e heróis como Super Homem, Tarzan, Mandrake, Zorro... de Humor, com o rato Mickey... Portanto, nada que fosse próximo da nossa realidade ou pouco mais ou menos.
Essa literatura desenhada, mais o cinema que víamos no Eden Parque ou no Alto Miramar, dilatou o nosso horizonte e iniciou-nos na leitura. Criado o gosto pela leitura, já na transição para a fase adulta, surgiram naturalmente os romances de autores portugueses, brasileiros e um ou outro cabo-verdiano – Chiquinho (1947), de Baltasar Lopes; Pródiga (1956) e O Enterro de Nha Candinha Sena (1957), de António Aurélio Gonçalves; Chuva Braba (1956), Galo Cantou na Baía (1958) e Flagelados do Vento Leste (1959), de Manuel Lopes.
Simão Salvador em Quadradinhos
A história de Simão Juliano é empolgante e está publicada no Cabo Verde - Boletim de Propaganda e Informação, Nº 4 - Janeiro de 1950, tendo sido extraída do “Diário Ilustrado”, de Lisboa, de 10 de Setembro de 1873. Inicialmente publicada em Africa Occidental – Noticias e Considerações, Francisco Travassos Valdez, Lisboa, 1864.
Em obediência ao natural impulso das gentes das ilhas e às circunstâncias da vida, Simão de nh’ Ana Pedrinho de nhô Manel Juliano emigrou para o Brasil. Um ano após à sua chegada às Terras de Santa Cruz, Simão foi feito marinheiro a bordo do vapor “Pernambucana” que, no trágico dia 8 de Outubro de 1853, numa das suas viagens do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, naufragou próximo do Cabo de Santa Marta.
Toda a esperança de salvação tinha-se perdido. O quadro que se oferecia a bordo era desolador. No vapor não havia os socorros precisos e de terra não podiam ser enviados. As ondas encapeladas envolviam o navio e a cada nova golfada do mar mais uma vida era perdida. As dezenas de passageiros que se agarravam uns aos outros sobre a coberta imploravam a salvação, mas inutilmente, porque a morte vinha rápida surpreendê-los, sem que os auxílios de terra pudessem ser prestados. Logo que o navio encalhara, um homem mais arrojado que todos os outros conseguiu salvar-se a nado. Esse homem era o nosso Simão Juliano.
Desprezando a vida que havia já salvo, Simão lançou-se outra vez à água e nadou para o navio. O espaço que tinha a percorrer media talvez 100 metros e o intrépido marinheiro venceu esta distância à força de coragem e de energia e voltou à praia salvando um dos passageiros. Depois desta vítima salvou outra, outra e outra. Dez vezes se lançou ao mar e dez vezes conseguiu voltar à praia trazendo sempre agarrado um dos pobres náufragos. As forças estavam exaustas. O corpo cedeu à fadiga e o valente marinheiro, prostrado e abatido, caiu por terra.
A bordo do navio ainda restavam alguns desgraçados para quem a última esperança se perdia de todo. Na praia, havia uma pobre mulher que chorava, lembrando-se de dois filhos que ainda estavam a bordo.E la dirigiu-se a Simão com os olhos arrasados de lágrimas e a voz embargada pelos soluços e apontou-lhe o navio. O valente atleta que lutara já duas vezes com o oceano enfurecido, lembra-se dos seus e de sua mãe, levantou-se e investiu com as ondas. Todos os espectadores estremeceram percebendo que a luta ia ser desesperada, mas momentos depois voltava trazendo mais um náufrago.
A mulher tinha outro filho que era preciso salvar e Simão lá voltou ao navio e pouco depois aparecia na praia entregando à mãe a segunda criança.
Já nada parecia restar a bordo. Os outros tripulantes e passageiros tinham sido devorados pelo oceano revolto. O navio, meio despedaçado, soçobrava sempre e estava prestes a afundar-se. De súbito, ouve-se um grito aflitivo. Era dado por um cego que ainda existia a bordo e de quem todos se haviam esquecido.
Simão olhou ainda outra vez para o mar, escutou os gritos de angústia que se soltavam em torno dele e precipitou-se no meio das ondas. Simão voltou são e salvo trazendo consigo o pobre cego. Ainda os dois não tinham chegado à praia e já o navio desaparecera de todo. Perto de cem pessoas haviam perecido nessa imensa catástrofe e as treze que tinham escapado deviam a existência ao nosso herói!
“Bonito e triste!” – diria a Mãe Xanda, ou “Bom pa filme!”, numa expressão mais do meu tempo de menino.
Simão Manuel Alves Juliano faleceu em Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, em 1856, com apenas 32 anos.
Literatura Infanto-Juvenil
Existe alguma produção de livros para os pequenos leitores infantis, praticamente toda ela esgotada, que foi editada pelo Centro Cultural Português e pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, nos anos oitenta, noventa, até meados de dois mil:
A História de Blimundo (1982) e Unine (1998), de LOPES, Leão; A Tartaruguinha (1996), de AMARÍLIS, Orlanda; A Cruz do Rufino (1997), de BETTENCOURT, Fátima; Saaraci: O Último Gafanhoto do Deserto (1998), de QUEIRÓS, Luísa; A Estrelinha Tlim-tlim (1998), de SALÚSTIO, Dina; Princesa Laginha (2003), de BRITO, Ineida Kénia; Histórias que eu Contei (1996), de COSTA, Mizé; Histórias de Encantar (2000) e A Magia das Palavras (2003), de CURADO, Hermínia; Bentinho Traquinas (2000) e 1, 2, 3 (2002), de PEREIRA, Marilene; O Monstrinho da Lagoa Rosa. (2001) e (2002), O Caracol Julião, de SOUSA, Graça Matos; Que os Olhos não Vêem (2002), de PEREIRA, Marilene e SALÚSTIO, Dina; Minguim, o Pirata (2003), de RODRIGUES, António Luís; Mam Bia Tita Conta Estória na Criol (2003), de RAMOS, Ivone; Colecção Stêra: A Greve dos Animais, A Sopa da Beleza, O Reino das Rochas e A Princesa do Mês de Agosto (2009), de SANCHES, Zaida; Mãe, Me Conta uma História (2009), de MAGALHÃES, Natacha.
Mais recentemente, de se louvar iniciativas da Pedro Cardoso Livraria e o surgimento de algumas poucas edições de autor.
A produção para os leitores juvenis é já outra história. Ou muito me engano ou não chega aos dedos de uma mão, daí ser fácil enumerá-la: Contra Mar e Vento (1972), de TEIXEIRA DE SOUSA; Vamos Conhecer Cabo Verde (1998), de LOPES FILHO, João; Capitão Farel. A Fabulosa História de Tom Farwell, o Pirata de Monte Joana, (2006), de LOPES, Leão; O Mistério da Cidade Velha (2017), PERERA, Marilene.
Daí que Simão, O Intrépido Marinheiro (2019), da coleção Brasil em Quadrinhos, seja uma iniciativa louvável, sobretudo por ser na modalidade de banda desenhada, uma iniciativa inédita entre nós.
– Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...