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Menino nascido na orela d’ mar, o poeta e novelista Daniel Filipe tem a reminiscência e os sons do mar das ilhas de Cabo Verde, talvez porque retirado dessa realidade muito cedo na sua infância. Os títulos dos seus livros assim o atestam – Missiva (1946), Marinheiro em Terra (1949), O Viageiro Solitário (1951), Recado para a Amiga Distante (1956), A Ilha e a Solidão (Prémio Camilo Pessanha sob o pseudónimo Raymundo Soares, 1957), O Manuscrito na Garrafa (novela proibida pela Censura, 1960), A Invenção do Amor e Outros Poemas (1961), Pátria, Lugar de Exílio (1963, livro de poesia proibido em 1972).

 

 

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Búzio-Tritão & Sons do Mar

Brito-Semedo, 27 Jul 18

 

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À memória de Marcos Lopes, Capitão do Ernestina

 

 

“Apenas um búzio, Daniel, para uma vez mais e para sempre, aí desse lado, te ficares a ouvir o mar longínquo da tua infância adormecida” – Maria Rosa Colaço, Abril.1964

 

 

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Teu sonho tem a forma de um navio,

inesperadamente enraizado

entre pólipos, limos, rapazio

do cais abandonado.

 

Para a viagem que não há, arvora

o negro pavilhão das aventuras.

Vê-lo-ás partir um dia, no remanso da aurora,

sereno recendo o vento nas amuras.

 

Onde irá naufragar? A que praia distante

irá fazer aguada num domingo de sol?

A que estranha paisagem a brisa do levante

o levará, talvez? A que pérfido atol?

 

 (Entanto, só navio

 moldura da sala,

é quase o desafio

de quem conhece e cala.)

 

– Daniel Filipe, “Sala de estar”,

in A Ilha e a Solidão, 1957

 

 

 

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Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...

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Jornalista e Poeta Eugénio Tavares

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