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 Ovídio Martins, caricatura de H. Bettencourt Santos (Humbertona), 1973

 

 

Praticamente até ao século XX a diferença entre a prosa e a poesia era facilmente percebida, graças às convenções formais específicas de cada um desses modos de expressão e, em particular, à mancha tipográfica criada na página em branco pelo texto impresso[1]. Contudo, com o advento da prosa poética, do poema em prosa e do verso livre, essa diferença tendeu a diminuir, tornando-se cada vez mais ténues os limites tradicionais entre as duas maneiras de escrever.

 

O poema em prosa e o verso livre “personificam” a poesia. Por outro lado, os prosadores vêm lançando mão de recursos poéticos aproximando a sua escrita da arte do verso. Desse modo, não é raro encontrarmos insertos em textos em aparência “prosaicos”, elementos característicos da poesia e, por vezes, até mesmo fragmentos em verso.

 

Ovídio Martins, um dos mais marcantes poetas da Geração do Suplemento Cultural, é cultor da poesia em verso e da poesia em prosa onde parece sintetizar o mais elevado nível da língua.

 

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'Mudánça', de Ovídio Martins

Brito-Semedo, 3 Abr 15

 

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Mindelo, Praia da Laginha, Foto MonteCara Soncent, no FaceBook

 

 

MUDANÇA

 

C’ bocês

Sempre c’ bocês

nesse luta de tude dia

nesse sperança de tude hora

rise verde e fartura

midje tchuva e sabura

 

C’ bocês

nesse terra de silencie

nesse tochore sem pecóde

trabói suor e trabói

riqueza de terra ê pa quem?

 

C’ bocês

sempre c’ bocês

sol quente na cabeça

tchuva de riba de corpe

nôs dstine ê sô um:

vra nôs terra note terra

 

– Ovídio Martins

 

in Não Vou para Pasárgada, 1998

 

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Ovídio de Sousa Martins

 

(S. Vicente, 17 de Setembro de 1928 – 29 de Abril de 1999)

 

  

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Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...

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