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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 25 Out 16
A emigração é um tema serôdio na vida do homem cabo-verdiano, tendo tido o seu início ainda nos finais do século XVII e sido mantido até hoje. Este fenómeno parece ser a solução a que a população recorre para a escassez sistemática dos recursos das ilhas.
Três poemas de épocas diferentes sobre a emigração cabo-verdiana:
A Emigração
(A propósito da emigração para S. Tomé e Príncipe)
Como é triste e é desolador
Ver partir, aos magotes, esta gente,
Entregue ao seu destino, indiferente
A tanto sofrimento, tanta dor!
Se a sorte ainda a traz à terra amiga,
Macilenta tristonha, depaup’rada,
Com a doença do sono já minada,
Ao cemitério um só coval mendiga!
Mas porque ides, assim arrebanhada,
A essa maldita terra de desterro?
É a fome que vos leva acorrentada?
Aproveitai melhor a mocidade
E ide mais distante, ide à América
A terra do trabalho e liberdade!
– Orion (Eugénio Tavares), in A Voz de Cabo Verde, N.º 35, 1912
Terra-longe
Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sonho que não vinha.
"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente"
A doce toada
meu sono caía de manso
da boca de minha mãe:
"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente gentio
gente-gentio come gente".
Depois vieram os anos,
e, com eles, tantas saudades!...
Hoje, lá no fundo, gritam: vai!
Mas a voz da minha mãe,
a gemer de mansinho
cantigas da minha infância,
aconselha ao filho amado:
"Terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente".
Terra-longe! terra-longe!...
- Oh mãe que me embalaste
- Oh meu querer bipartido!
– Pedro Corsino Azevedo, in Claridade, N.º 4, Janeiro, 1947
Holanda
Holanda!
Chegámos companheiros!!
Chegámos com barcos guildas nos olhos e desejo de vencer
Chegámos intermináveis e actuais
às docas
betão aço cargueiros e braços precisados
Chegámos numa dimensão nova
e poremos todo o nosso esforço!
Fogueiros
marinheiros
lubrificaremos máquinas
alimentaremos caldeiras
betumaremos conveses
poremos sóis nos amarelos.
Nos bas-fond dos portos do mundo,
loiras desconexas no espasmo novo
Rítmica descompostura…!
Sensual olhar tropical
verde olhar felino
o espasmo quente esbate!
2
Nas docas, companheiros!
Barcos guildas nos olhos e desejo de vencer!
Chegámos intermináveis e actuais
às docas
betão aço cargueiros e braços precisados
e pusemos todo o nosso esforço!
Pusemos esperança na nórdica revelada
E cada barco chegado…
…Os que partiram
na leva do Esso Nederland!...
Os que ficaram
acenando
cada barco rumo ao mar
(jovens aventureiros da promessa do mar)
a Esperança levou-os
fogueiros
marinheiros…
– Oswaldo Osório, in “Seló”, N.º 1, 1962
Da experiência e da vivência na terra-longe, muito pouco se verteu para o papel, derivado, eventualmente, ao baixo nível de escolaridade dos que emigram. Que se saiba, Onésimo Silveiras é dos poucos que escreve sobre o que viu e experimentou, no caso, em São Tomé. A nível de ensaios e estudos sobre as comunidades emigradas, Luiz Silva é dos pioneiros com o seu Crónicas da Terra Longe (2015).
– Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...