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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 30 Mai 19
Homenagem às gentes da Cidade-Porto do Mindelo
Bô papá ca foi foguêr
Nem tampoco rocegadôr
Nem marinhêr nem catraêr
Nem carpintêr nem pedrêr el foi
Nem padêr nem pescador
E nem tambêm catador
– Manuel d’ Novas
Mindelo Cidade-Porto
Mindelo é a cidade de gentes de todas as ilhas, ali chegadas em diversas levas, cada uma com sua identidade local forte, sobrepondo-se ou justapondo-se como um ‘mosaico multi-ilha’. Também é de gentes de muitas nacionalidades que ali se fixaram ou aportaram em determinadas épocas e contextos, criando uma cultura genuinamente mindelense, na verdade, uma síntese de todas essas culturas, ao mesmo tempo local e cosmopolita.
As “gentes-das-ilhas”, à medida que foram chegando a São Vicente foram-se instalando nas periferias, muitas vezes juntando-se por ilha de origem, constituindo-se na mão-de-obra sem qualificação, trabalhadores do porto, carregadeiras, empregadas domésticas, catadores-de-vida (biscateiros), gente de muitos ofícios e do pequeno comércio.
A “gente da morada” veio a ser constituída por pessoas com posses que foram chegando de fora, atraídas pelo que viria a ser a cidade portuária, e se instalou no centro da cidade como uma pequena burguesia ocupando-se do comércio (ship-chandlers e import/export), empregando-se nos serviços (Western Telegraph Company, Italcable, Millers & Corys e Shell) e na administração (Alfândega, Banco Nacional Ultramarino, Administração Civil).
Esse São Vicente dos anos de 1930, 40 e 50 é retratado muitíssimo bem e com realismo pelos escritores António Aurélio Gonçalves, nas noveletas reunidas em Noite de Vento (1985); Henrique Teixeira de Sousa, nos romances Capitão de Mar e Terra (1984), Djunga (1990) e Entre duas Bandeiras (1994); e Germano Almeida, em O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo (1989). Os trovadores B.Léza, Jotamonte, Eddy Moreno, Ti Goy, Frank Cavaquin, Manuel d’Novas, fixaram isso nas suas mornas e coladeiras, de que se destaca um exemplo:
Quem crê oia gente grande de nôs terra
Oias na Lisboa ta passea
C'mon pa trás
Li ca tem Grémio ca tem Praça
Ondé q'nô ba
Nôs tude é meme chose
Na dispidida
Condé es sai di Mindelo
Na tud sês grandeza
Es ta dzé "Eu vou para Lisboa"
Ora qu'es tchga
Q'nô manda-s pa traz
Q'ês dsembarca na Soncente
"Eu venho de Lisboa"
– Eddy Moreno
Ocupações de boca-de-porto
Sendo Mindelo uma cidade que nasceu como porto carvoeiro, isso levou à construção de armazéns, cais de embarque e desembarque, guindastes, lanchas, carris e vagonetas para transporte, carga e descarga do carvão, o que resultou no surgimento de novas profissões e ocupações até então desconhecidas, com designações traduzidas directamente da língua inglesa, entrando e enriquecendo o crioulo com novos termos, adaptando-se ao falar do povo.
Surgiram assim termos para dar conta dessa nova realidade, hoje praticamente caídos em desuso, como ariópe (depressa), belachuto (fato macaco, fato de ganga), bisnize (negócio, ocupação), bloque (roldana), bósso, bossomane (contra-mestre), brêtche (ponto de comando), bumbe (pau de carga), chipechandra (casa fornecedora para navios), coltara (tinta preta extraída do carvão), créne (guindaste), cróque (haste comprida com um gancho na ponta), djobe (emprego), donquema (homem que trabalha na descarga), faiaman (fogueiro), forqueta (aparelho sobre o qual se coloca o remo), screpá (rapar, tirar com raspadeira), siman (marítimo, homem do mar), stiúde (dispenseiro), stân-bai (de vigília, vigia), uáipa (chegador, ajudante de fogo).
Tudo isso memória de uma época. Outro tempo viria a ser cantado pelo trovador Manel d’Novas:
Ó nosso baia di Porto Grande
Cordá bô oiá
Plá manhã já manchê
Ca têm trabόi pam’ trabaiá
Si ca ê puli calçada
Nês ruinha de Mindelo
– Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Um belíssimo texto este da senhora Sónia Jardim. T...
Interessante que isto me lembra um estória de quel...
Muito obrigado, m descobri hoje e m aprende txeu!!...