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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 20 Nov 20
Parceria entre Edições Sesc e revista Pessoa, São Paulo, Brasil, reúne ensaios sobre a ficção de língua portuguesa dos últimos vinte anos.
Livro apresenta os nomes mais relevantes da crítica que se debruça sobre a produção literária do espaço lusófono.
Intitulada Travessias imaginárias: literaturas de língua portuguesa em nova perspectiva, a publicação busca promover o diálogo dentro dessa própria comunidade e contribuir para a reflexão, num sentido comparatista, mas não académico, sobre aspectos narrativos de determinado conjunto de obras, sejam experimentais ou mais afeitos à tradição, sobre tendências temáticas, imbricações estéticas e ideológicas e ainda sobre as relações de proximidade ou negação entre os escritores mais sonantes do período abordado.
O livro é organizado por Mirna Queiroz, fundadora e editora executiva da revista Pessoa e apresenta de forma consistente um panorama crítico do que há de mais significativo na literatura de língua portuguesa.
Por Cabo Verde participa o professor e ensaista Manuel Brito-Semedo, colaborador do Expresso das Ilhas, que procura explicitar a relação das elites intelectuais e sua produção literária com o sistema dos regimes políticos instaurados no país: (i) o Regime Político instalado com a Independência versus a Elite Intelectual Claridosa, (ii) o Novo Regime Político instituído nos anos 90 e as Liberdades Individuais e (iii) As Vozes Mais Representativas da Ficção Cabo-verdiana Contemporânea.
Segundo Brito-Semedo, nos últimos vinte anos (1999-2019), confirmaram-se como romancistas Germano Almeida, Prémio Camões 2018, Dina Salústio, Danny Spínola, Mário Lúcio Sousa e Evel Rocha; estreou-se na ficção como romancista Eurydice; e consolidaram-se como contistas Fátima Bettencourt, Ondina Ferreira, José Vicente Lopes e Eileen Barbosa, uma das poucas vozes de jovens da pós-independência.
Germano Almeida, Prémio Camões 2018, é, actualmente, a voz mais representativa da ficção cabo-verdiana com as suas obras traduzidos para diversas línguas em países como Espanha, Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca, República Checa, Letónia.
Iniciado na escrita no Ponto & Vírgula: revista de intercâmbio cultural (São Vicente, 1983-1987), onde publica as suas “Estórias” com o pseudónimo de Romualdo Cruz. É, contudo, com O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo (1989) que Germano Almeida se lança nas letras cabo-verdianas com uma linguagem que oscila entre a ironia e o sarcasmo, com muita malícia à mistura, o que faz com que a leitura dos seus textos seja agradável e estimulante.
Com dezoito títulos publicados, Germano Almeida auto-define-se como “contador de histórias” e considera que O Fiel Defunto[1], sua mais recente obra, é o seu primeiro romance.
Para o escritor, intitular-se como “contador de estórias”, mais do que modéstia ou jeito desprendido de dizer as coisas e de encarar a escrita, é dizer que o material para a sua escrita está lá, existe ou existiu a nível do real, do factual – “As matérias estão por cá espalhadas e aos pontapés de quem tem ouvidos (…), melhor, andam no ar à disposição dos neurónios de cada qual” – e que ele, enquanto escritor, “apenas” a está a contar, pondo-lhe algum tempero, claro, pela sua forma de narrar. Já ser “romancista” é “criar uma estória, completamente ficcionada”, com alguma profundida de análise e bastantes detalhes.
O Fiel Defunto é a efabulação da realidade sanvicentina e de Cabo Verde do ponto de vista social, cultural e político, em que o autor ironiza e satiriza os seus muitos tiques, próprios de um meio pequeno – “terra chiquita, inferno grande” – com gente da pequena burguesia tradicional cheia de nov‘horas e de políticos oportunistas.
As realidades sociais das suas obras são as da Boa Vista, sua ilha natal, e de São Vicente, sua ilha de residência, de onde vê o mundo.
Dina Salústio, Prémio Rosalía de Castro do Centro PEN Galícia 2016 e Prémio PEN Reino Unido de Tradução 2018, que fizera a sua estreia na ficção com o livro de contos Mornas eram as Noites (1994), dá à estampa, nove anos depois, o seu primeiro romance, A Louca do Serrano (1998), tornando-se na primeira mulher a produzir esse género literário e a ser traduzida para o inglês[2]. Seguiram-se Filhas do Vento (2009), Filhos de Deus, (2018) e, mais recentemente, Veromar.
Em Veromar[3], diferentemente dos anteriores romances, a protagonista é um espaço inventado, ou reinventado, havendo nele um Cabo Verde reimaginado. A história é contada por uma mulher e passa-se tendo como música de fundo uma canção infantil, “Senhor Barqueiro”.
Fátima Bettencourt, depois da sua estreia em ficção com Semear em Pó (1994) e de publicar Mar – Caminho Adubado de Esperança (2006), edita Sonhos & Desvarios[4] com os sonhos que teve e adaptou em forma de contos. Neles aborda diferentes temas como o trabalho infantil, a violência doméstica, a questão do género, a imigração e a emigração, os caçubody [crioulização do inglês cash or body], assaltos de meliantes, situações e peripécias que são vividas no dia-a-dia.
Mário Lúcio Sousa, Prémio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa 2000, Prémio Literário Carlos de Oliveira 2009, Prémio Literário Miguel Torga 2015 e Prémio do PEN Clube de Portugal para a Narrativa 2018.
Mário Lúcio, que se assume como músico e não propriamente como escritor, publicou o seu primeiro romance, Os Trinta Dias do Homem mais Pobre do Mundo, em 2000, seguindo-se Vidas Paralelas (2003), O Novíssimo Testamento (2009) e Biografia do Língua (2015) – todos premiados – e, mais recentemente, O Diabo foi meu Padeiro[5], onde faz a história de um facto dramático e cruel perpetrado pelo Estado Novo e registado nos livros de História.
Passados que foram 45 anos do fecho do Campo de Trabalho de Chão Bom, a Prisão Política do Tarrafal, é um reavivar da História, ainda que de forma ficcionada, para não ser esquecida e nunca mais voltar a acontecer.
Eileen Almeida Barbosa, identificada em 2014 pelo Hay Festival of Literature and the Arts Limited e a Bloomsbury Publishing Plc (Bloomsbury”) como uma dos 39 melhores escritores africanos com menos de 40 anos.
Eileenístico[6], único livro até então publicado, consiste num conjunto de contos e crónicas onde Eileen Almeida Barbosa apresenta uma escrita cabo-verdianamente jovem e urbana.
Essa produção ficcional cabo-verdiana dos últimos vinte anos dá conta da dinâmica das publicações nesse período, num total de cerca de quarenta autores e perto de cem títulos, entre romances e livros de contos. É, por outro lado, um retrato da alma de Cabo Verde estando nele as suas gentes, “todas as cores, todos os sons livres, as […] falas em risos, danças ou dores, e as falas do mundo e os seus silêncios. E o sopro da chuva”, citando Dina Salústio.
– Manuel Brito-Semedo
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Mirna Queiroz (São Paulo, 1968) é uma jornalista, editora, curadora e produtora luso-brasileira. É fundadora e editora executiva da revista Pessoa e co-organizadora do The Pessoa International Literary Festival, evento dedicado à literatura lusófona organizado nos Estados Unidos e em Portugal.
[1] O Fiel Defunto, Editorial Caminho, SA, Lisboa, 2018.
[2] The Madwoman of Serrano, Jethro Soutar, editora Dedalus Books, Londres, 2018.
[3] Veromar, Rosa de Porcelana Editora, Lisboa, 2019.
[4] Sonhos & Desvarios, Rosa de Porcelana Editora, Lisboa, 2018.
[5] O Diabo foi meu Padeiro, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2019.
[6] Eileenístico – Contos e Crónicas, Edição de autor, Mindelo, 2007.
Esquecer!? Ninguém esquece…
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