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Magazine Cultural a divulgar Cabo Verde desde 2010
Brito-Semedo, 6 Dez 24
A migração cabo-verdiana para a América iniciou-se no século XVIII, focada na América do Norte e impulsionada pela actividade baleeira, com destaque para as ilhas Brava e Fogo. Posteriormente, no século XIX e início do século XX, estendeu-se à América do Sul, com destinos como Argentina, Brasil e Uruguai. O Porto Grande de São Vicente tornou-se ponto estratégico para estas rotas, envolvendo principalmente homens das ilhas do norte, como São Vicente, Santo Antão e São Nicolau. Essa mobilidade gerou uma identidade transnacional híbrida, combinando raízes locais com influências globais, evidenciando como os cabo-verdianos equilibram laços culturais e adaptações em seus destinos.
A Migração para os Estados Unidos
Desde o século XVIII, marinheiros cabo-verdianos, associados à indústria baleeira, estabeleceram relações transatlânticas que consolidaram o transnacionalismo da diáspora. Inicialmente sazonais, estas migrações tornaram-se mais estáveis, formando comunidades em New Bedford e Providence, cidades que se tornaram pontos centrais para os cabo-verdianos nos EUA. Nessas comunidades, a preservação cultural manifestou-se em práticas religiosas, celebrações e na música, como a morna e o funaná.
Apesar disso, os cabo-verdianos enfrentaram desafios identitários. As pressões para se identificarem como afro-americanos contrastaram com a preferência por enfatizar a herança crioula. Internamente, tensões surgiram entre os "kriolu", mais ligados a Cabo Verde, e os "merkanu", identificados com os EUA. Este contraste, por vezes, levou a uma fragmentação das comunidades, mas também fomentou debates enriquecedores sobre a identidade. Organizações como a Cape Verdean American Community Development ajudaram a superar esses desafios, promovendo um reconhecimento mais adequado da identidade cabo-verdiana-americana e oferecendo suporte a projetos culturais.
Comunidade na Argentina: Invisibilidade e Redescoberta
Na Argentina, a diáspora cabo-verdiana desenvolveu-se em três fases principais. Inicialmente, no final do século XIX, marinheiros chegaram a Buenos Aires, aproveitando as oportunidades criadas pela navegação comercial e pelas rotas do sal. Esses primeiros imigrantes contribuíram para a formação de comunidades nas margens do rio da Prata, estabelecendo as bases para as futuras gerações.
No início do século XX, formaram-se bairros étnicos como Dock Sud e La Boca, que se tornaram centros culturais e sociais. Esses locais funcionaram como importantes núcleos de preservação das tradições cabo-verdianas, mas também reforçaram a segregação social. Ao longo do século XX, muitos cabo-verdianos assimilaram-se, com a exogamia e a perda gradual de práticas culturais visíveis, o que levou a um estado de "invisibilidade étnica".
Recentemente, um movimento de revitalização cultural emergiu, liderado por associações comunitárias e iniciativas locais. Estas iniciativas resgataram tradições musicais, como o batuque, e promovem o orgulho pela herança africana, destacando o papel do transnacionalismo contemporâneo na reconexão com as raízes culturais. A criação de eventos culturais e o fortalecimento de redes sociais entre descendentes também têm ajudado a reforçar essa identidade.
Gerações Futuras: Reinterpretação da Identidade
As novas gerações cabo-verdianas, particularmente a segunda e a terceira, enfrentam o desafio de equilibrar herança cultural e integração nas sociedades anfitriãs. Laços culturais são mantidos através de tradições familiares, festas comunitárias e do uso do crioulo, mesmo em contextos privados. Contudo, essas gerações enfrentam também uma "dupla marginalidade", sentindo-se entre dois mundos: nem totalmente pertencentes ao país anfitrião nem completamente ligados à identidade cabo-verdiana.
A poesia e a literatura cabo-verdianas frequentemente refletem esses conflitos identitários. Obras como as de Eugénio Tavares e outros escritores da diáspora oferecem um espelho para as experiências das novas gerações. Este desafio, porém, também representa uma oportunidade. Jovens cabo-verdianos reinterpretam a cabo-verdianidade ao incorporar elementos das culturas locais e questionar narrativas históricas. Este processo inclui resgatar símbolos culturais, como a música e a culinária, enquanto adaptam a herança crioula às realidades multiculturais contemporâneas. Redes sociais e plataformas digitais também desempenham um papel vital na expansão e ressignificação dessa identidade.
Considerações Finais
A migração cabo-verdiana exemplifica uma notável capacidade de adaptação cultural e resiliência. Nos Estados Unidos, comunidades equilibram a preservação da herança crioula com a integração numa sociedade multicultural. Na Argentina, a invisibilidade deu lugar a uma revitalização cultural, demonstrando como a identidade cabo-verdiana pode ser renegociada.
Para as gerações subsequentes, o desafio de conciliar pertencimento e herança cultural transforma-se em uma oportunidade para reinterpretar a cabo-verdianidade. Este processo assegura que a identidade cabo-verdiana não seja apenas uma memória estática, mas sim uma expressão viva e dinâmica, que transcende fronteiras e temporalidades. Este legado, além de enriquecer o patrimônio cultural global, é uma contribuição valiosa à compreensão do transnacionalismo e da diversidade cultural. O estudo da diáspora cabo-verdiana oferece uma rica perspectiva sobre como comunidades podem construir identidades inclusivas e resilientes em um mundo em constante transformação.
– Manuel Brito-Semedo
Esquecer!? Ninguém esquece…
Suspende fragmentos na câmara escura, que se revelam à luz da lembrança...
Olá Brito Semedo. Também apresento m/condolências ...
Bom dia,Apraz-me realçar que li, atentamente, o te...
Boa-noite. Que eu saiba, as crónicas do Nhô Djunga...